segunda-feira, março 23, 2009

eXtereótipos.

o que são minhas mãos,
senão pedaços de vidro
transformados em areia?

e meus olhos dois grandes oceanos,
ora castanhos, ora sem cor...
salgados e violentos como o mar.

sou mão e olhos...
arte e alma.
criação e sentimento.

minha duplicidade é forma,
vida e existência.
é a prisão para o que expresso,
sinto e... sou.

beijo o mundo com as lágrimas
que correm dos meus olhos
e se esparramam em minhas mãos.

toco os átomos invisíveis,
suas nuances e segredos:
sinto o mundo com minhas digitais.

tudo é membro e órgão
até a noite raiar,
quando os olhos se fecham
e as mãos enluvam-se em cetim.

quarta-feira, março 11, 2009

ciclo momentâneo e vicioso.

Estava caminhando e o mundo me doía. As pessoas desfalecem, sofrem, sangram, enquanto dou mais um passo à minha casa. Cada pequena formiga é pisoteada por minhas células gigantes, por meus sentimentos miúdos. As bactérias sãos inspiradas para dentro de mim e, talvez, quem sabe, passem pelo meu coração devagar. Tumtum, tumtum... tum... tum... tum.
Eu nunca soube. Ou nunca quis saber. Não que isso me faça importância agora, rastros do passado distante. Entro em casa e jogo-me no sofá. Tenho medo, um medo egoísta de encarar qualquer coisa à minha volta. Por isso, bem sei, sou encarada. Tornei-me passiva, não sou mais agente dos meus atos. O controle remoto fixa seus botões em minha alma remota. Ele quer se mexer, gritar, implorar! Mas não pode. Ele não faz parte da crueldade da natureza. Não, nada disso se lhe é verdade. Enquanto eu, ah, eu desejo ser contida imediatamente, desejo não ter opções. Desejo não ter desejo.
Mas sinto-lhe pena e tudo volta à minha mente: a menina suja, por favor, dinheiropãoáguavida! Eu passei, mas uma parte de mim ficou parada ali para sempre, naquela dor tão completa... até ser consumida profundamente pelas pessoas que não se dividiram como eu (pessoas retas, certas, pessoas uma só). E aquilo me sugou. Como tudo que já me vinha sugando há anos, corroendo a essência que habita dentro de mim. Mas aquilo, aqueles olhos implorativos, aquelas minúsculas mãos cortadas, aquela alma que pede, obsequiosamente, que lhe dêem algum sentido!

Meu deus, estou chorando! E como choro pelo meu egoísmo, que foi transformado em medo. Não tenho coragem de pegar o controle remoto e ligar a televisão e deparar-me, ah, com o caos de sentimentos, de perda de fé, da realidade que tanto me abala! Como posso, como? Muito menos tenho acapacidade (força!) para comer, tomar banho ou dormir. Não sei como estou respirando. Não me consigo mover. Não, tudo que me lembro é do beco escuro e da menina e do cheiro e do sabor salgado. Sou incapaz de recordar mais. Talvez aquela senhora...
Não, por favor, não! Não me lembre de mais. Ah, mas eu sei. Eu estava cega e, por isso, conseguia ser feliz. Eu era como Tobias, meu cachorro que está brincando com a bolinha de borracha neste exato momento. O mundo é esse brinquedo, que pode ser mordido, rolado, chutado, ser feito pleno dentro de uma plenitude relativa. Não importa, o mundo é todo seu, e de mais ninguém. Ele rola atrás da bola... ladra, pula, lambe. Ah, Tobias!
Mas sou humana, e sou gritantemente culpada por sê-lo. Fingi ser inocente, quando tudo se passava em flash em volta da minha bola de borracha, soltando faíscas claras e queimantes em cima de mim.
O que eu sou, senão o símbolo maior da culpa? Do conformismo e da falta de coragem?

Tudo é falta, na situação em que me encontro. Agora, aqui, sentada e paciente, vejo com a visão real como minhas paredes estão descascando, como os pisos de madeira estão corroídos pelos cupins. A vontade de gritar é estridente e sobe à garganta.

Mas eu não grito. Sou muda. Vejo e escuto, mas não solto o que senti. Não expresso. Tenho a catarse, mas a epifania é só minha.
Egoísmo.

A visão de tudo aos poucos volta a clarear. Acalmo. Acalanto. Ligo o som e escuto a música leve que me faz ter vontade de dançar.
Canto.
Sou folha, pena e nuvem.

Tudo passa...
Esqueci.

Há algo para lembrar?

Fui dormir e acordei ansiosa com o final de semana que vinha pela frente.

menina, beco, dor, fome...?
vocábulos não inerentes ao livro da minha vida.

segunda-feira, março 09, 2009

íris.

às vezes abro os olhos,
mas não vejo o mundo.
não sei o que vejo,
mas sei o que sinto.
- E é forte.

as pessoas dizem
que meus olhos não existem.
é só brancura.
Eu rio.

o rio flui.
dentro de mim as águas voam
e me chamam.
Não, não quero me afogar!

quero apenas ser,
não o mundo!,
mas o que sempre fui.
Apenas.

assim foram percebendo
que meus olhos estavam ali.
e que a íris tão colorida
só poderia estar voltada
para dentro de mim...

quinta-feira, março 05, 2009

retina.

sinto minha falta,
quando abro as janelas
e rasgo as cortinas.

o céu azul me encara,
me zomba, me mata,
me chama.

vem, menina,
vem voar em mim.
solte seus cabelos estrelados
em minha pele escura.

tenho medo!
- eu grito.

medo de quê?

de desexistir.
de ser apenas luz vista
daqui a milhões de anos
pelas pessoas de mãos dadas
na grama verde-escura da terra.

tudo se transforma,
reluzente pequena.
sua luz se tornará eterna
enquanto houver pessoas
para vê-la e senti-la.

e depois que todos se forem?

restará a poesia
que está sendo escrita
por uma parte de você,
que é luz e eternidade,
escuridão e fim.

ah!