segunda-feira, julho 27, 2009

a madeira da beira.

a porta entreaberta,
o mundo entre farpas.
uma de suas lágrimas me olha,
mas só fumaça me cheira.

a frestra é sombra,
dança desordenada.
o cigarro me atinge,
(você fuma a dor como quem ri)

meu deus, tudo se fecha!
a luz vai embora
-acendo o isqueiro-
letreiro na porta: abismo.

sexta-feira, julho 10, 2009

desespero silabal.

você é tudo que tenho agora. você e um pouco do desespero. porque isso vem, me sacode, me machuca, me silencia, joga felicidade em forma de pílula para dentro de mim e depois vai embora. vai, voando, como uma mariposa que eu desenhei e depois fugiu do papel para o mundo, deixando-me em branco.
mas você, você não vai fugir, porque você não é desenho. você tem vida, tem asas, mas não vai a lugar algum. vai ficar aqui comigo. não vai?
ah, eu afirmo, mas não tenho certeza de nada. eu posso um dia acordar, correr até a gaveta, abrir o caderno... e você não está mais lá! nenhuma palavra.
é sobre isso que estou falando realmente?

vou te contar um segredo. eu acordei hoje à noite e o sol ainda estava no céu e as nuvens ainda desenhavam o seu rosto nelas e eu ainda consegui sorrir por um tempinho até escutar o despertador tocar e eu acordar de manhã. estava nublado. não havia nuvens nem seu rosto nem meu sorriso.
mês passado eu subi no telhado quando estava chuvendo e fiquei vendo os raios caírem por todos os lugares. desejei que um raio caísse em cima de mim, desejei sentir sentir o raio. mentira! eu queria ser o raio, queria ser raio e não...

ah meu deus, estou apaixonada por você. e escrevi tudo exatamente para que não me deixasse nunca nunca. assim: era uma vez um doce menino chamado lucas que tropeçava nas pessoas e caía no ar. um dia esse menino tropeçou em uma menina, mas ela não deixou lucas cair. não! ela o segurou pelas pernas, e os dois flutuaram por aí.
fim.

não é como se fosse uma mentira, porque não é como se eu realmente acreditasse nisso. mentira é o fato d'eu afirmar que só tenho isso agora. não, eu não tenho só isso. aliás, não tenho nada disso. não consigo nem ao menos escrever agora.
o que me resta é apenas o desespero.

domingo, julho 05, 2009

maquiagem.

sentada neste sofá,
pernas cruzadas,
salto quebrado,
visualiza o homem-gravata
abanar seu chá de maçã.

qual o problema?
ele pergunta sem açúcar.
ela corre para o banheiro
e vomita a fala na privada.

aquele gosto de bebida fermentada,
a falta de vontade de reagir.
senta-se de novo e vê o homem nu.

qual o problema?
ela pergunta adocicada.
ele corre para a janela
e sai voando para a casa ao lado.

- as marcas de batom caíram todas no chão.