sexta-feira, junho 27, 2014

somos imitação de universo:

se não abraçamos o sopro
como a um vento avassalador
cada pequeno gesto e beijo
se perde na esquina
às vezes teima em parar
outras aposta corrida
nunca a mesma volta
nunca o que poderia.
só te digo: sê
que as estrelas já foram
mas ainda temos tempo
para dormir juntos até mais tarde.

sábado, junho 07, 2014

vida,
de novo te invoco,
tantas vezes em minha poesia,
às vezes bela
às vezes divina
hoje doida varrida
descabela e infeliz.

dádiva,
presente do agora
ou castigo do fim?
é do gosto a criação
ou a evolução do desgosto?

ah, como eu queria passear com você,
anos passados
ano novo esperado
e o carnaval marcando o compasso.

vou te contar que danço muito
forró, bolero, funk e samba de raiz
mas hoje, vida,
só restou aquele tango argentino
com a única flor vermelha do mundo
que consegue chorar
(mas é atriz!)

mãos de babel

não nasci pássaro nem borboleta
a beleza deixei para trás 
também o voo livre pelo céu
e minha fuga amarrada no cais.

vim órfã ao mundo:
a noite não dá à luz
mesmo que a lua insista
em ser a flama que a paixão conduz.

fui ser logo morcego errante
cega das nuances do quando
caindo em bares sem permissão
derrubei muralhas apenas voando.

veio do mar nebuloso
com a sobriedade da visão
sabendo poema e inconstância.
crime e paixão.

arrancou-me do corpo as mãos:
"hoje tu amanhece aqui
amanhã não se sabe
com essas linhas de babel
canto, silêncio,
qualquer coisa vale"

não sabia das linhas que tinha
tampouco algo me disse a vidente
pois quando se está cego na vida
só se reescrevendo novamente.