terça-feira, agosto 25, 2015

esqueci como se escreve um poema

antes tivessem me assaltado as palavras, que o esquecimento é o pior jardim para se nascer.
aliás, não nasce: vira túmulo na lama, com raízes secas e flores já cansadas.
queria tê-lo achado no bolso, mas vai ver estava furado, e ele foi por aí se apagando pelas estradas.
sei lá, esqueci. não julguem minha mente de senhora.
sempre achei a velhice um charme - essa história de se fazer poesia do nada.

spring waltz

there are flowers everywhere
e cores girando em marcha ré.
my body is a piece of lark
desritmado, seguindo a tarde.
the piano whispers me the wind
o poema desentardece, esfinge!
flowers, body, piano,
floresço, escrevendo...
o córrego não corre mais,
nem carrega minha dor.
pediu licença pra ser água-viva,
transformar peixes em pássaros,
libélulas em borboletas
água em tinta.
onde vou agora depositar as lágrimas?
que dava ao choro tempo pra existir e ir embora,
(subterfúgio de ser um pouquinho de mar.)
vou guardar tudo num jardim
fazer delas um ou dois orvalhos
quem sabe assim nasça uma flor...
dorme em meu ombro teu assombro.
deixa cair dos cabelos o susto do segundo.
é em cada respiração a incerteza,
em cada carícia a saída para, ainda, lugar nenhum.
se há no abraço o silêncio,
há no adeus apenas a sugestão.
ficaram também rastros,
que não há pegadas sobreviventes à arte da memória,
nem gosto que permaneça fresco.
o gesto é somente o inverso
a intenção não é o poema,
mas talvez a chave de alguma invenção.

amor é

não se tem, que é maior que nós.
passa pelo abraço e pelas bocas
e vai ser oceano no mundo
- cheio de lágrimas e estrelas.
não se sente, que é eletricidade
se energiza e colhe raios
caindo às vezes em lugar escondido e inabitado
iluminando cidades e apagando casas
(que no escurinho também é bom).
às vezes também não é,
mas dá sempre pra ser
só conjugar o amor direitinho
que ele chega pra tomar um café.