quarta-feira, outubro 28, 2015

há uma flor na beira do abismo
(não é a mesma do asfalto)
esfinge de pétalas passageiras
esperando o pulo ou o abraço.
sou o choro desesperado
nas noites mal dormidas
de um amor inacabado.
sou aquela angústia que plana 
voa pelo corpo calado
e aterriza na solidão da cama.
queria do beijo o retrato
que a memória me chama
pois este presente jamais acato.
há dias em que precisamos ir embora
levar conosco as flores do vaso
e plantá-las na terra.
deixar na pia do banheiro as lágrimas pingando,
pingando a solidão
que a inundação venha pela estrada
que me carregue pruma noite cheia de abraços.
confesso que há dias em que preciso andar
o rumo incerto, a arma certeira
as mãos vazias de mim mesma
arrancando sementes e raízes dos jardins recém-nascidos
há dias em que se batem portas
e o estrondo jamais será o silêncio de antes...
no fundo, a harmonia do que poderia ter sido.
há dias já não te reconheço mais.
posso soprar uma pena?
leve o medo pra outro tempo
voa com o compasso incerto
acerta meu corpo num canto torto
posso receber uma pena?
presa, mas ainda viva
grade, mas ainda sol
louca, mas ainda...
posso escrever uma pena?
nas lágrimas a matéria
nos dedos a procura
nessa pena a saída.