quarta-feira, setembro 28, 2016

essa chuva me deu vontade de escrever qualquer coisa. então fiquei tentando lembrar de todos os poemas e contos que me vêm prontos na cabeça, e eu fico escrevendo coisas na minha mente atribulada. são muitas mulheres esquisitas, descalças, bêbadas e fumantes, perdidas com certeza, que me assombram todos os dias, enquanto vou andando pro trabalho escutando rádio. 
aparecem às vezes algumas rimas, ritmos, palavras trocadas. sempre digo pra mim mesma: vou escrever absolutamente em qualquer lugar assim que tiver um papel e uma caneta, ou assim que pegar meu celular onde não possa ser assaltada. mas chego no bendito lugar, onde quer que seja, e já estou pensando em outra coisa, como por exemplo todos os livros que tenho deixado pela metade ao lado da minha cama.
quando estou tomando banho acontece quase o mesmo, mas mergulho mais fundo em abismos. enquanto a água cai, entro em transe, vejo paisagens, nuvens obscuras, dias de sonolência em sarajevo. saio do banho e o cabelo toma minha atenção, ou a música que já começou a tocar no laptop.
mas essa chuva, esse alagamento na rua, o cigarro que fumei tão rápido me trazem de volta o esquecimento, e sinto uma pequena, mas sincera, vontade de chorar por tanta coisa que nem tive, mas já perdi.
antes quebrar pratos e garrafas
do que o coração,
que não se jogam os cacos no lixo
- remenda-se
e nunca mais é bateria do salgueiro
vira qualquer coisa desafinada,
rachado como o muro de berlim.
baby, não mexe no meu cabelo.
deixa ele assim, despenteado
fingindo que é linha em colcha de retalhos.
não me diga o que eu posso ser
aprende: há uma imensidão no que já sou
um mar revoltoso, desconhecido.
não sou a pedra que suporta e impõe,
mas o choro dessas águas perdidas
e o encontro de uma onda com a outra.

quinta-feira, setembro 01, 2016

só preciso de um maço de cigarro,
uma garrafa inteira de vodka
e teu silêncio.
não, não diga nada
cala a boca na tua inocência
na tua burrice pedante
e me deixa pensar

sobre o nada
(o choro da garota todos os dias às 3 da manhã em uma casa vazia)
sobre cada
minuto que
porta que
adeus que
você não deu
(faz mais sentido que teus olhos em mim)

o depois é sempre um antes estragado.

 
entender, entender o outro na mais profunda leveza
abraçar-lhe em silêncio, dar-lhe de comer sem questionar
cantar uma canção de outra vida, contar histórias da infância
correr na rua de mãos dadas,
pular poças como se pula oceanos:
- sempre o desconhecido, mas sempre a coragem.
um olhar que se perde na constelação que é o outro olhar,
um gesto vivo de compreensão quando se pede amor
amar como se fuera diós, rezar como se fuera hombre
ter e não ter este segundo que é belo e incrivelmente impreciso.