terça-feira, abril 17, 2007

Entre Ódio e Sangue.

Já era tarde. Ele escoltava a arma na mão. As lágrimas escorriam de seu rosto: era o ódio nascendo. A coragem ia e voltava de seu corpo, como o sol se punha todos os dias, sem cansar-se. Seu sangue borbulhava em suas veias, e a pura indecisão voava em seu corpo inteiro.
Ele andava de um lado para o outro, naquela rua escura. Apenas uma luz estava acesa, tal que era suficiente para iluminar-lhe o rosto moço e já tão abatido. Apertava a mão suada e quase tinha medo daquele escuro, tão letal como a manhã que já se passara há poucas horas.
Sentou-se na beirada da calçada e chorou. Ninguém o escutaria, pois aveludam-se os sons para dentro da alma. Era noite, e estava sozinho, também se fosse dia o estaria. Não tinha certeza se iria conseguir fazê-lo, mas o pior dos sentimentos o sugava a cada respirar. A dor o sufocava, a verdade o tocava.
Em sua mente, viam-se todas as cenas já acontecidas, uma por uma, até o último segundo do infinito, onde parar o movimento seria tão impossível quanto sorrir agora.
A primeira lembrança: os gritos. Ele escutava os sons, mas não reconhecia as palavras. Era ela, apenas sabia, sofrendo e pedindo por ajuda. Quase uma sinfonia de adeus e vontade de desexistir.
Depois segue-se o sangue. Sua arte vermelha arrastava-se por toda a casa até o branco saciar-se em agonia. O sangue dela, que também é seu, foi morto sem escapatória, a crueldade foi lenta e sem intevalos.
Ele a vira ser morta: vingança. Morta por seu amante eterno, tão ilustre, que tanto causava-lhe suspiros apaixonados. Sua própria mãe morta por seu próprio pai. Ele deseja que nada tivesse visto. Deseja que tivesse a chave para voltar pela porta do ontem e ter gritado, arrancando-lhe das mãos brutais.
Mas o presente o aguarda: um carro vem pela rua. Pára perto da luz, e desce um homem. Parece cansado, tem os olhos calmos.

- Meu filho.

Dá-se um abraço.

- Meu pai.

Suspiros, olhares trocados.

- Sinto já tanto a falta de sua mãe, mal se fora de meus braços para o eterno. Devemos unir-nos mais, agora, em função da tristeza.

Cafajeste.

O filho tremia, as palavras do pai somente fizeram-no ter mais ódio. Ele Começou a chorar, o pai sorriu, em disfarce.

- Dê-me mais um abraço, venha cá.

Seria agora. Colocou a mão no bolso e foi abraçá-lo. Dar-lhe-ia um tiro na cabeça, ele veria a escuridão!

- Ah, meu filho! Não se ocupe em tentativas, em pensamentos[...] - calou-se, deixando continuidade.

Ele levantou a arma até a cabeça do pai e, quando ia puxar o gatilho, cravou-se uma estaca em seu peito. E também em sua alma.

- [...] A vingança pode não ser completa.

E se foi, deixando sangue do seu sangue jorrando do peito de seu primogênito, até a morte beijar-lhe os lábios em gratidão.


A vida, às vezes, pode ser sem rumo. Para uns, é alegria. Para outros, perdição. A verdade, em campo de batalha, não existe. Por isso o sangue escorre da mentira e da falta de piedade de quem luta pela sobrevivência.

3 comentários:

Anônimo disse...

Porraaaaaaa! Ficou foda esse texto.

Muito.

=*

Anônimo disse...

, texto cinematográfico. imagina ele como um curta...
, gostei de aqui. voltarei...
, beijos meus.

Anônimo disse...

Eu sempre me preocupo em fazer comentários inteligentes, com conteúdo, algo mais que "nossa que lindo! beijospassanomeu..."
Mas ao ler o que você escreve eu fico sem palavras tal qual menina que vê o menino por quem é apaixonada.
Me surpreendo sempre com sua capacidade de escrita, me fascino sempre.
Beijos