Ela caminhava pelo cemitério. Era uma noite bonita, estava sozinha, e tudo ia perfeitamente bem. Já eram dez horas, precisava apenas apressar-se um pouco, não se atrasaria. E, se se atrasasse, não faria muita diferença.
Seus passos beiravam inseguros, mas sóbrios. Seu corpo começara a tremer, e ela teve um sincero medo de voltar-se e correr dali. Não obstante, uma força a impulsionava, jorrava, gritava! Iria seguir em frente, iria conseguir, ah, se iria.
Havia rosas. Eram os olhos de seu marido acompanhando-a pelas salas escuras de sua mente. Sentia o cheiro. Angústia. Lágrimas. Lágrimas. Lárimas. Pétalas de rosa....
Apertou as mãos: lembranças. Se não tivesse a consciência, maldita consciência!, certamente estaria em casa, dormindo, lendo um livro, fazendo carinho em seu gato. Pois bem, ainda dava tempo, mas os passos continuavam, não cessavam, queriam sua recompensa. Sorriu de desespero, gargalhou e chorou. Era loucura! O que estava pensando! Oh, promessas, oh, sonhos! O amor, o amor, o amor!
Adeus. E sabia que não era adeus. Era um navio partindo, que pedia para que se jogasse ao mar, caso não voltasse de viagem. E ela se jogaria...?
Finalmente. Seu vestido negro balançava com o suspirar do vento, seus cabelos roçavam-lhe a face. Luísa estava ali. Luísa, uma mulher baixa e bonita. Ela estava lá, encarando-a, surpreendida, talvez sem ar. Era pálida, e suas roupas confundiam-se com sua pele. Sorriu.
Sorriu? Nós costumávamos sorrir, Luísa.
- Você tem certeza, moça? - Luísa estremeceu.
- Eleonora, por favor. - Acalentou os próprio braços. - Sim, o tenho. Já lhe paguei, não? Sim, creio que já acertamos.
Ei-lo.
Lá estava o túmulo cavado, o caixão tão grande. E seu amado. Com seu anel de ouro... "As estrelas nos guiam ao nosso eterno amor." Ela largou o punhal, seus olhos encheram-se de lágrimas.
Não! Não! Como pode?
- Serei enterrada viva.
- O quê?
- Já escutou.
Ela queria ficar sã e senti-lo mais uma vez ao seu lado, como adormecido. Seria como antes, estariam abraçados como se o tempo estivesse parado e como se fossem eternos.
Cruel decisão.
Deitou-se no caixão, e este foi fechado. Deixou o punhal com luísa, caso o desespero a tomasse e quisesse tirar a vida antes do momento. Queria tocar-lhe a face até os últimos segundos de vida, até quando não mais pudesse respirar.
A terra foi caíndo, a escuridão penetrou...
E ela cantava, quase sorridente, corajosa, serena, abraçada, passando os dedos entre os dois anéis idênticos, uma música que falava sobre amor, até mesmo quando a morte nos chama...
Sorriu.
E o ar acabou.
Um comentário:
você descreveu a coisa mais angustiante em que eu posso pensar. Como a consciência em morte e nada mais, escuro.
nossa.
e cantando, cantando!
não consigo escrever sobre o amor que dura assim. sempre desisto.
enfim...está mais feliz? de uma forma bem louca, esse me parece menos angustiado!?
beijos moça-pato! =P
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