segunda-feira, setembro 28, 2009

até.

é tudo mentira. mesmo que todas as lágrimas que cantam para o meu sono vir secassem, eu ainda estaria de joelhos para o espelho, tentando enxergar um pingo de chuva no chão refletido.
nada é como o querer. por isso a invenção, essa magnitude viva de construir cidades inteiras com o meu desejo (e depois desabá-las com apenas um sopro de realidade). sabe, como se o que existe me doesse ou não me bastasse, como se eu quisesse mais, como se eu precisasse de um abraço longo e demorado que me arranhasse até a alma.
porque tudo é tão difícil. parece redundante falar isso quando as palavras já me são tão duras, quando você vira a esquina e leva consigo o olhar e o meu sentimento. e ele é maleável, deixa-se carregar fácil, é doce e sereno, e tem medo.
eu sentei no chão para sacudir um pouco as estrelas do céu com meu olhar delirante. vi que você estava perdido. também estava. mesmo nós dois estando com as mãos atadas como asas que voam e não voltam mais.

cena 1:
- você viu?
- o quê?
- uma estrela cadente.
- seus olhos?
- não, lá no céu.
- seu sorriso.

cena 2:
- você viu?
- o quê?
- os fogos explodindo no céu!
- não, não vi.
- ah.
- já é tarde, você está alucinando.

mas as estrelas, e o ar rarefeito, e o sereno... nunca é tarde para se agarrar às luzes que atacam meu coração. depois você levantou devagar, foi tragar um cigarro no banquinho ao lado do portão.
eu precisava tanto, tanto. ao mesmo tempo em que precisava do lado oposto. queria gritar me dá a mão; ou vai embora.
talvez eu realmente estivesse alucinando, porque comecei a rezar baixinho que deus me salvasse daqueles momentos, que o dia viesse logo e que tudo acabasse. que tudo voltasse ao normal, que eu fosse novamente luísa e não luzia sem luz.
esses são os momentos de pesadelos que se aliviam logo após acordarmos e descobrirmos que nada era de verdade. mas aquilo era real: você sentado distante na pedra, os pulsos finos e tatuados, a cicatriz dolorosa nos olhos.
cravei as mãos na terra e te esqueci. era melhor agora chorar escondida, dentro dos armários, a me encarnevivar.
levantei como uma senhora e cheguei perto: - beijei o ar carbônico que saía de você, tão mortífero quanto o olhar que trocamos.

entrei em casa e tranquei a porta. fui dormir, como se acreditasse que acordaria no dia seguinte com a saborosa lembrança distante do sonho.

sábado, setembro 19, 2009

_

tudo não passa de um olhar para dentro
e de perceber que há uma cadeira vazia,
pedindo pr'eu descansar.
meus pés estão tão cansados,
de correr pra não sei aonde.
parar é preciso.

minhas roupas já tão amarrotadas,
meus sonhos saias de algodão.
a música que toca me deixa tonta
mesmo sentada sinto o cansaço do mundo.

escondida, me guardo
nas páginas que não podem ser lidas.

quinta-feira, setembro 03, 2009

descoberta.

pura e simples,
a gota de orvalho me faz flor.
desce dos cabelos e planta sementes
no pensamento chuvoso.

coloridos são os olhos,
formadores de lacrimosas pontes,
deliciosos suspiros de madrugada passada.

de água o corpo é todo doce,
misturado ao sal das piscadas silenciosas,
pausa fora mundo dentro.

se eu voar
as gotas me choram,
mas não secam:
- escorrem, lentas,
tornam-se cobertores-retalhos de mim.

me dá um gole.

esse céu, as estrelas, seus olhos
são a bebida na escrivaninha
ao lado do papel.

o líquido multicolor
borra a folha em branco
e forma um pássaro colorido.

não preciso de palavras
para ler a poesia que do vidro escorre
e crava o vício nos lábios secos.

gatilho.

de repente você sacou a arma,
e, com um tiro,
arrancou toda minha vontade.
me deixou perdida,
fora do espaço entre nós.

fui para longe,
onde a pólvora não tinha força,
morta e com a bala pesada nas mãos.

joguei no lixo a minha tarde,
o pôr-do-sol,
todos os pulsos que me nutriam.

o sangue-sentimento é doce,
mas agora só sinto um gosto
salgado queimando minha face.

a dor voa no ar
como estalo sinfônico.
eu caio no chão
como silêncio de pausa.