abri os olhos e você me olhava. amêndoas arco-íris pedindo pr'eu cantar uma música de ninar. dorme, meu bem, que o tempo lá fora nos espera, dorme, meu amor, que a vida nos exige, e o caminho é longo, descansa agora enquanto eu mexo nos seus cabelos de poesia infinita.
len-ta-men-te, você se deixou embalar pelo meu canto sereno. por um momento, pude ver a fragilidade da sua respiração leve e cheia de vida. quis sentir como você sentia. o ar entrando, saindo, paz.
cobri seu corpo macio e delicado e sentei no parapeito da janela.
olá, estrelas.
milhares de pontinhos brilhantes acenavam para mim. são os vagalumes da eternidade. eu poderia ficar ali até os fins dos tempos, tecendo, sustenido por sustenido, a doce melodia que é viver.
você bocejou sonhos. eu costurava o dia. quando a manhã chegasse, certamente o raio de sol mais forte despontaria seu rosto para um sorriso girante, como o girassol.
mas um chamado vindo de fora da janela me assustou. moça dos cabelos de corda e dos dedos de harpa! não sei de onde veio ou por que me tirou a tranqüilidade: abri as asas e voei com o orvalho caindo dos olhos, deixando tulipas nascendo por onde passava... para o azul do mundo lá fora.
quando você acordou, apenas a música ficou presa no quarto, e aquele gosto de mel-primavera querendo voltar a ser doce.
no chão, uma estrela caída ainda cintilava.
-(era um vagalume ferido)-
Um comentário:
Olá, Priscila!
Estou aqui passeando por esta praia de nudismo vocabular, quando encontrei este texto, singelo e imaginativo, que é muito seu. Tem este modo poético de ver as coisas da natureza que talvez seja o lado mais bonito - porém, decerto o mais inusitado - a se encontrar numa revolucionária.
Diego.
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