segunda-feira, junho 25, 2007

Helena.

- Uma estória, vamos lá, você consegue. Feliz...

Ela se chamava Helena, com tempo passado. Era uma escritora de barzinho, daquelas que se matavam para que algumas palavras fossem lidas e aceitas com entusiasmo. Quase ninguém a compreendia, pois sua visão do mundo era um pouco diferente, um tanto niilista, uma pitada de solidão.
Quando começou a escrever devia ter seus dezesseis anos. Era muito imatura para a idade, portanto não escrevia muita coisa que prestasse na real visão literária (oh, olhar!), mas sua paixão viva por tudo que se formava em linguagem era tão avassaladora, que teimou com as palavras, até que estas já não conseguiam viver sem ela. Seus familiares achavam que não tinha futuro como escritora. Aliás, não conseguiam ver futuro algum para Helena, aquela ovelha negra, que não presta para nada.
Um dia, decidiu que iria embora de casa, para bem longe, além-mar. Costumava apanhar daquele monstro bêbado, que não conseguia chamar de pai. Recolheu seus livros, suas poesias, um pouco de dinheiro e roupa, e se foi. Foi-se como a brisa que toca o rosto da manhã. Alojou-se num banco de praça, de uma cidade vizinha à sua. A noite veio, o medo cresceu: estava sozinha, numa praça deserta e sem vida, porém conseguiu acalmar-se e dormir. Quando acordou no dia seguinte, sua mochila havia sumido... Desatou a chorar.
Bem, foi mais ou menos por aí que foi parar em seu barzinho. Com fome, sem dinheiro e sem esperanças, uma doce senhora, de nome indiferente, encontrou-a chorando.

- Menina, por que choras? - parecia ter um sutaque diferente.

- Moça, moça, por favor, me ajude! - arrastou-se até a senhora. - Tenho frio... e medo! - soluçou em lágrimas.

- Guria, tu já estás na idade de virar-te sozinha! Vamos, pára de chorar... vem, levar-te-ei a um lugar aquecido.

Seguiu a senhora por umas ruas não muito agradáveis, até chegar à frente de um bar barulhento, escutava-se uma música tremendamente alta vindo de lá. A senhora entrou e Helena a seguiu... O medo voltou.

- Walter, encontrei uma guria na rua... bem afeiçoada. Te serve? - a senhora adiqüiriu um aspecto astuto, quase como uma ave de rapina.

O homem de nome Walter olhou a menina de cima a baixo, até suspirar e responder:

- Não é das melhoras, mas dá pro gasto. - coçou a barriga. - Qual seu nome?

- Helena. - tentou ser seca.

Helena, seu nome ficou marcado em um panfleto na frente do bar: ela começaria a dublar cantoras famosas, para dar um pouco de audiência àquela velharia. No começo, tudo foi farra e maravilha. Helena escrevia nas horas vagas, em guardanapos, e os deixava nas mesas dos clientes. Alguns achavam que era brincadeira de mau gosto, devido às palavras duras escritas. Outros gostavam do que liam.
Mas algo a incomodava dia e noite. Nunca conseguia escrever algo feliz. Por que todos os seus poemas eram tristes? Por quê?
Em uma noite, aconteceu algo realmente ruim. Walter, que a havia acolhido, começou a engraçar-se para cima de Helena. Esta não queria nada, estava com dezoito anos e ele era um velhaco! Ele tentou forçá-la... e, bem, digamos que pagou sério por isso. Além de ter sentido uma dor tremenda em uma certa parte do corpo, perdeu sua dubladora profissional e mais algumas notas verdes do caixa.

Ela estava novamente nas ruas.

E aqui estamos nós. Eu sou um mendigo, Helena narrou-me toda a sua história. No dia em que fugiu do bar, eu lhe emprestei meu ombro, e ela chorou. Pediu que eu a escutasse. E eu o fiz.
Ela é famosa hoje em dia, ah, se é! Uma escritora de renome. Graças a mim, sim senhor, ela vinha toda semana contar-me sobre o que escrevia... tudo sempre triste. Até que um dia, quando eu estava a beirar a morte, roguei-lhe...

- Uma estória, vamos lá, você consegue. Feliz...

E foi esta estória que todos leram em todos os cantos do mundo.




Não ligue, leitor, para minha boba história. Mas esta menina acreditou nos seus sonhos, e isto vale demais.

Um comentário:

Pedro Pan disse...

, acreditar nos sonhos vale muito. e vale muito acreditar em quem os sonha também...
, beijos meus.