segunda-feira, novembro 17, 2014

sim. meu corpo ainda é meu corpo, e mesmo que sinta a pintura escorrendo pelos braços e nascendo como uma borboleta viva e independente no mundo, ainda assim silencio: sim. 
ainda estou sentada nesse tempo morno que é a aceitação do fim da primavera e das recordações ora nostálgicas ora amargas que é a vinda de um verão pueril. sim, me deixei levar pelas páginas em branco. sim, respirei o cheiro de tinta fresca que às vezes é fruta às vezes é esquecimento.
essa aceitação é necessária senão o demônio me toma e me arranca desse estado fingido que teima em ser paz que teima em ser aurora e quem sabe consegue.
de vez em quando acho os cacos por aí. esqueci que fingi ir embora, mas fiquei, fiquei milhares. e agora nem lembro por onde começar.
estou sentindo aquela força que me faz cortar os cabelos. é como uma dança rebelde, sacudindo todos meus pequenos fragmentos, querendo rasgar o limite que é o corpo, salão pequeno e escuro para os passos nascentes.
é melhor o cabelo que os pulsos, pois esqueço que sou atriz e vou ser dançarina nas esquinas do dia.
sou gata noturna. não quero saber de dança nem de cicatriz. só inventar mais um suspiro que grito.
não sei se luto
se sangro
se canto
se mudo
de casa
de mundo
se viajo
se fujo
se corro
se pulo
se voo
precipício.
não sei se vivo
se luto
reluto?