quarta-feira, janeiro 30, 2008

Dias sem Inspiração.

há dias terríveis,
enigmáticos e sem sentido,
quando sofro de alucinações
todas mentalmente visualizadas,
mas sem palavra e papel.

quando penso em tocá-las,
as idéias,
sim, elas fogem de mim,
e me perco no mundo real.

perder-se nesse mundo é
de terrível pouco,
pois o meu verdadeiro lar,
ao que sempre almejo voltar
é como a saudade latente,
os dias em pasárgada,
os meus oito anos,
uma canção do exílio cheia de falta.

alguém me traga de volta!
abduzida, puxada, desmaiada,
não me importo

ao mundo das palavras preciso retornar.

sábado, janeiro 05, 2008

a falta de.

Sentia a falta. Falta de quê, perguntava-se. Mas sabia que simplesmente era a falta em si, e não algo que por si só poderia desesperadamente almejar. Desesperadamente: eis a palavra que envolve. A falta batia dentro de seu peito e procurava subir por todo seu corpo, como um inseto maldito, corrompendo-a por completo.
Acordou naquela manhã ensolarada e fechou a cortina, tinha horror ao lado de fora, ao mundo, ao exterior de dentro de si. Começou a andar em círculos, círculos que se fechavam e círculos que se abriam. A mão repuxando os cabelos, de onde vinha aquela abstinência? Ela apenas sabia que algo fora arrancado de dentro de sua mente, e agora estava sozinha, sem rumo, sem saber por que não tinha a vontade que movia todas as pessoas.
De alguma forma, tinha medo de viver. Sabia que sentiria falta do ar que respirava agora futuramente, por isso tinha receio de respirá-lo. Porque a falta cresceria ainda mais, e, com razão, a falta de, finalmente, algo. Entenderia a falta de. E essa falta seria do tempo em que ela era, porque agora ela é, e amanhã será. Mas nunca mais voltaria ao que já foi, e isso a deixava entristecida.
Parou e fixou o olhar em um porta-retrato. Fixou-o bem, queria lembrar desse momento eternamente, em que ela conseguiu olhar para dentro de sua própria alma e ver um sorriso crescente. Mas sabia que dentro de alguns dias esqueceria esta lembraça, tal como já fizera tantas e tantas vezes a respeito de outras imagens, e tons e cores.
Queria impressionar-se com as notas musicais, com o amor e com a vida, não obstante, pensava se já não era tarde demais. Sabia que, uma vez dentro deste conhecimento obscuro, desta virtude contrária, não havia mais volta, e chorava com a boca, com a mente, com as mãos, mas não com os olhos. Estava cansada do costume, de ter visto o que não queria ver, desta falta de.
Às vezes pensava em suicidar-se, mas achava essa idéia tão sem nexo, que respirava mais e mais fortemente para sentir-se viva [ou simplesmente para... viver].

O dia estava chegando ao fim, e ela sabia que a falta de não cessaria, somente em alguns momentos conseguia esquecer dela e sorrir realmente, gargalhar e não pensar em mais nada.

Este é o problema: os segundos de ser livre desta consciência eram raros.

E ela sentia inveja de qualquer pessoa, que não fosse ela.
Porque conseguiam ser plenamente livres.