terça-feira, maio 05, 2015

segunda-feira
por mais que eu queira
não é primeira nem segunda nem última
é ausência
memória
bocejo
enquanto a vida permitir.
a poesia é um navio que pousa,
através do vento, corriqueiro,
no mar, caudaloso:
as duas facetas do tempo.
que sangue é esse que há em todas as coisas?
que às vezes coagula fingindo dor e angústia
em outras é vinho e gargalhadas no salão.
escorre, caudaloso, buscando estradas, imitando rios, fazendo embarcar e descobrir peixes cegos e passos incertos
canta também sobre o corpo que dele precisa
sobre o amor que dele flui.
e vai sendo lava faminta, apressando os rumos do dia
enquanto corremos em sua direção acorrentados.

ciranda, para Carinne Lira

queria passear pelo mundo
mas não tinha dinheiro nem asas nem balão
fiquei sentadinha
assistindo ao futebol de rua
passando as mãos pelo céu e rindo sozinha.

caiu chuva, maresia e trovão
não tinha nem guarda-chuva
virei um pouquinho de mar, de rio
guardei no bolso a viagem prometida.

outro dia, sem barulho e aviso
chegou um postal de longe
era o rascunho e fotografia
do meu corpo dançando em outro continente.
há um momento, dentro de todas as coisas, que você começa a vernuances. nuances coloridas, nuances black and white, nuancesnuances nuances. 
chances nuas de acariciar o tempo, de beijar lentamente esse segundo que te penteia e massageia as mãos. 
é como um pássaro que descobriu não o voo, mas a capacidade de sonhar.

sim, me mato um pouquinho todos os dias
que não sou de morrer de uma vez
preparo os caminhos
desenho rastros
aproveito cada silêncio precioso
cada pedra que sempre diz algo.
amanhã é tão longe
mas já chegou
me deu bom dia
me fez promessa de amor
e eu, que sempre acreditei em tudo,
pedi uma fotografia
pra levar comigo na tempestade.
fui é parar no deserto
largando pra trás as lágrimas
que não são permitidas na seca
na alegria que é ainda estar vivo
quando olhei pro céu, chovia
eram meus olhos que me olhavam
e pediam pra eu tomar aquelas lágrimas
como vinho em noites de núpcias.
depois da viagem, o mar
cheio de qualquer coisa
lembrei que era hora de ir
de lançar na água mais uma parte de mim
o mergulho inebriante feito de fim e começo.
amor não é lua e estrelas
é sol.
queima o mundo
nasce morre e renasce
e quando vem a noite
é pra deitar o coração no ombro
e sonhar que amanhã é dia de dar à luz.