sexta-feira, fevereiro 20, 2009

uma piada sobre mim.

Agora eu compreendo muito bem o meu medo, o meu pavor perante a tudo que demonstre ter falta de sentimento ou vida. A verdade é tão exata, tão completa e infinita. A minha verdade, a verdade sobre o que penso, sinto e... permuto. Tudo parece agora de uma claridade crescente, como se eu tivesse colocado um par de óculos e enxergasse tudo tão mais completo.
Você nunca foi a razão de minha mudança, Vitória. Nem um pouco. Agora, após um ano do seu abandono, sei com a certeza mais certeira. Ah, como adoro redundâncias. Não sinto sua falta, não a amo e nem ao menos consigo lembrar como foi a sensação de tê-la amado. Você consegue sentir a veracidade dessas palavras? Nunca fui tão sincero. Mas nada disso é sobre você.
É sobre a minha descoberta. O sentido do meu desespero. Como agora sei os porquês de muitas das minhas perguntas, porém sem saber suas respostas. E como eu costumava chorar, enquanto tremia interminavelmente... nos seus braços. Você não entendia. E eu não conseguia explicar. De maneira alguma. Como poderia? Eu não conseguia gritar o quanto eu precisava de você, o quanto sua simplicidade me comovia, o quanto eu a invejava. Eu queria sentir o mundo como você sentia! Como todas as pessoas sentiam! Eu tinha ódio de todos, de cada pequena alma que sorria com o raiar do sol e andava calmamente de bicicleta pelas ruas quentes.
Achavam que eu tinha problemas psicológicos. E eu achava graça dessas pessoas. Invejava a sua falta de conhecimento e queria, por um momento, transportar-me para dentro de algum pensamento simples... O que comeríamos no almoço?
Mas eu não conseguia, prendia-me dentro do meu niilismo sem fim. Que paradoxo, não é mesmo? Niilismo sem fim. Que seja. Eu prendia-me a isso.
Mas quando conheci você, o amor surgiu-me mais uma vez, após tantos anos enclausurado na minha adolescência risonha e, ah, tão simples! Por alguns momentos, eu achava que conseguia esquecer de tudo. Ah, Vitória, eu conseguia sorrir verdadeiramente. Por alguns minutos eu conseguia apagar da minha alma cada detalhe de cada pensamento soturno que invadia minha mente e controlava-me sem piedade.
Por isso, agarrei-me tão profundamente a você, como se sua chama de felicidade e falta de realidade me aquecesse. Você consegue entender? É claro que não.
Mas cada vez mais comecei a descobrir o meu medo. Inicialmente achava que não me importava com nada, que minha vida não merecia existir. Isso tudo não era desespero, era aceitação. O desespero veio realmente quando apaixonei-me pelos lugares, pelas pessoas, por minha imagem no espelho, pelos livros, pelos filmes, pela sonoridade deliciosa de Chopin! Quanta coisa, quanto sentimento. E a cada vez que tudo acabava, que eu fechava um livro, que eu desligava o rádio, que dava adeus a alguém, uma dor insurpotável apossavasse de mim. E à noite tudo voltava à minha mente, aquela filosofia incontrolável, aquela metafísica que, se eu pudesse, estrangularia até vê-la sangrar e sumir do mundo.
Mas eu não podia agüentar isso tudo. Essa felicidade era muito mais dolorosa do que a minha indiferença. Vai acabar, eu pensava. Vai tudo mudar. Em um piscar de olhos.
A mudança começou quando você me deixou. Você não foi a causa. Não, não você, Vitória. Mas o que sua imagem representava para mim. Veja bem, você me proporcionou o amor que me proporcionou felicidade que me proporcionou vontade que me proporcionou o esquecimento que me proporcionou a capacidade de sentir o mundo que me proporcionou o desespero porque tudo...
Tudo é tão mutável.
O meu medo é simples. Percebo-o agora. Pode ser até mesmo um medo comum. É com toda certeza melhor sentir esse medo do que sentir o nada propriamente dito, o ermo, a falta de sentido todos os dias, a cada segundo.
É muito melhor enlouquecer de despero do que de razão.

Você não me compreende, não é, minha querida Vitória?
Certamente você sente medo do desconhecido, medo do que vem após.
Mas não se deixa dominar.

Não, não se deixe. Por que deixaria?

Não quer acabar inventando uma mentira como essa que estou inventando. Inventar uma pessoa, inventar sentimentos e sentidos, para que consiga fugir da absoluta falta de algo. Por que inventar que sente a vontade?

Sou realmente um desesperado e invejoso.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

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Eu nunca imaginaria, nem por um segundo, a imagem que tenho de mim mesma agora. Nem por toda a certeza no mundo, nem por uma vidente que sempre acertasse.
Como cheguei até aqui?
Parece que, de tanta absorção, eu tornei-me um grande espaço em branco. Algo inacreditável, uma muralha de sentimentos.

Há uma voz na minha cabeça repetindo repetindo repetindo repetindo: isso é errado. isso não é normal, como poderia ser? que inocência, que sonhos, que sentimento! isso não existe. e tudo que sai da sua boca não é aceitável, não é plausível. você não pode ser assim, não, meu amor, não, minha querida.
E essa voz parece ser a de uma senhora. Uma sombra com um véu nos cabelos grisalhos. Se eu conseguisse dizer o que me está apavorando, o que me deixa sentir como a pessoa mais enclausurada em um canto que jamais existiu...
Mas não haveria entendimentos. Só a certeza de que há algo errado. Algo errado comigo. E com o que eu sinto. O que eu sinto mais profundamente. E o quanto eu sei que é inacreditável que eu possa sentir.
E eu tenho medo de deixar tudo cair, de retrair-me, de deixar-me desacreditar e achar que estou errada. Que tudo realmente não pode ser assim. Há de ser de outra forma, por favor. De repente, pode reaparecer a sensação de completo vazio. Mas um vazio pode ser completo?
Não quero lembrar do vazio. nem um pouco.

Sou sozinha. Sou sozinha mais do que qualquer pessoa cogite adivinhar. Sozinha dentro de mim, dos meus pensamentos jamais revelados e da dor que sinto por ser. Por isso agarrei-me tão fortemente à grande luz avassaladora e quente e que me fazia sentir sede.
Não existe o saciar-se.

Mas eu não quero explicar a minha solidão.

O que eu quero explicar é que finalmente consegui. E sei que não consigo mais que isso. Nem um pouco mais, nem com ninguém!
E isso é difícil de entender. É difícil para uma pessoa que não eu...

Por isso.
Ar.
Por isso quando escuto que há algo muito errado com tal sentimento, eu tenho medo. Pois é tudo que eu sinto.
Então tudo foi um erro.

E eu nunca deveria ter sentido.
Porque não há outra forma, para mim, de sentir.