domingo, julho 12, 2015

deixe a luz acesa.
é pela sombra do não-dito que me movo.
é pelas nuances do segredo que respiro.
há nessa luz que me desenha um quê de escuridão.
há lágrimas caudalando o quarto
e um compasso desesperado incomodando o sono.
minha solidão é nua como os quadros na parede.
vejo-a iluminada, pingando do teto em meu corpo frágil.
esse deserto por onde vago é feito de cama, tempo e ilusão.
sim, deixe a luz avessa...
tomei uma pílula pra dormir:
não há estrelas em minhas pálpebras
nem ventania pra me embalar o sono.
saí sonâmbula por aí
viajando em trens abertos
rabiscando mundos em meus braços
- alcancei as estrelas que me faltavam.
na bula uma palavra pequena
que não adormece, mas sonha
não é segredo, mas não te conto:
só descobre quem toma.
queria escrever flores
deitada no banco do jardim
cavar raízes no tempo
esperar em um cochilo a primavera.
bebo um copo d'água
ou será de universo?
não, é a flor que me toma
em sua boca, em seu caule, em sua morada.
há horas desenho enigmas
e apago, como se fosse deus
jorrando milagres imperfeitos na terra
dando à luz botões inocentes.
minhas mãos são pétalas que morrem.
há um segredo no corpo do mundo
não é só o vento que me anoitece
nem o andar pela madrugada
tampouco o mar que me abraça
talvez teus olhos
no sol amante e aprendiz
sejam esse silêncio
que me finge o que nunca quis
será mesmo que hoje é dia
desses que vagam por nós
(achei que era outro)
quando escuto, não minha
mas tua voz.
descobri que não tenho nada
fernando tinha sonhos
(apesar de tudo)
não tenho nem um sonho de padaria.
e como poderia querer alguma coisa?
se meu caminho é sem migalhas de volta
sem tijolos amarelos
sem pedras no meio e sem palmeiras no fim.
ai que cansaço que tenho
da aurora da minha vida
que nunca foi muito aurora
e agora já é passageira noturna
dessas que vai de vagão em vagão
vendendo alguma esperança
porque falta dinheiro pra comprar aquele sonho naquela padaria.
nunca gostei muito desses doces assim, não
preferia ficar sentada no meio-fio
vendo todo mundo passar
que nem passa roupa, que nem passarela
mas eu ali,
amarrotada, sem passar,
fiquei apenas com o ela.