domingo, outubro 23, 2016

maybe in another life when we are both cats

te imaginei acordando lentamente. o dia, que deveria clarear, escurecendo e trazendo uma tempestade e um cheiro de terra molhada que me lembrava da infância. acendemos um cigarro. a vida é engraçada, quando queremos que parte, uma pequena parte dela, seja o imprevisível ou uma vontade descarada de a morte ser o instante seguinte que bate à porta.
imaginei o teu cheiro junto ao meu corpo. são amêndoas amargas com frutas cítricas que invadem o quarto, como um incenso de igreja. há tanto pecado, tanta culpa cristã em imaginar qualquer coisa, que o cheiro se transforma em fumaça de cigarro depois de uma grande e gloriosa ressaca de um domingo ameno.
imaginei muitas coisas. algumas loucuras como vamos imediatamente para o paraná, porque lá deve haver bares incríveis e fumos novos para se experimentar. ou que tal pularmos nus em alguma praia no meio da noite e fazer sexo até que algum guardinha frustrado com a vida nos prenda? mas nem imagino como seja o gosto de transar com você, já que o beijo já foi uma briga de torcida organizada.
o corpo no outro, as bocas quentes, mas a mente ensandecidamente em algum lugar que não o corpo, que não a boca, quem sabe um meio termo em alguma vida passada?
desistir nem sempre é desistir. pode ser também um gosto de vida nova, de vitória, de novos caminhos. e é com essa certeza (mentira, certeza alguma) que enterro junto com essas palavras qualquer sentimento extrapolado, corrente em rio sem rumo, que sinto e grito e choro por você.

domingo, outubro 02, 2016

há em mim uma matéria de reclusão
atração por estantes empoeiradas,
o dia namorando o corpo livre
e chegar lentamente com os livros na cama. 
estar em absoluto silêncio 
e ainda assim conversar em muitas línguas
falar sobre a morte das papoulas
e sobre o que pensa quem agora acorda do outro lado do mundo.
parece que atravessei um espelho
achando que era mergulho em qualquer água
não morro afogada, felizmente
mas será que morro cortada?