domingo, março 31, 2013

o corpo teu amanheceu
sem mapas e cheio de contornos.
era um navio perdido ondulando saudades.

dei adeus ao subir na proa
olhares e distâncias deixei para trás
enquanto na terra
teus pés construíam um mundo novo.

o céu me derrama:
quer dividir para me tomar.
mas rasgar eficaz seria
pois esse poema é todo dono de mim.

segunda-feira, março 11, 2013


você é como uma estrela
que vai cair no jardim
será raiz,
depois fruto
e então flor

carrega sempre essa cadência
meio universo
meio terra
meio nós dois.

te chamei pra nascer comigo
andar por essa vida
com os pés no chão
e os olhos lá em cima
nessa paz cheia de céu.
faz tanto tempo que não me deito assim no chão e deixo o vento me tocar, bem de leve, com suas plumagens e segredos. cada passo é uma nova pergunta, mas sem pressa para as respostas. agora eu consigo entender alguns ritmos, algumas letras. é que meu corpo respira fundo.
cartola dizia que o mundo é um moinho, mas eu penso que o mundo está mais para o que ele é: um grande mar azul, cheio de ilhas e vontades de acordar ao seu lado com os raios de sol. tudo está tão bonito que eu até estranho. mas a vida então é isso: um surpreendente sorriso depois de uma enchente devastadora.

domingo, março 10, 2013

olha, durante muito tempo acreditei em coisas que não faziam o menor sentido. coisas da vida, de saudade, de amor, de como será, de como foi, de como vou resistir... e hoje, aqui deitada na rede, olhando para o céu, deixando o tempo refletir suas dores em meu corpo recém-nascido, percebo o quanto preciso varrer as cinzas que deixei espalhadas por aí.
cada dia, um vestígio.
silêncios e abraços
de uma vida a nascer.

dedos trêmulos, olhos embaçados.
é possível um beijo não tocar os lábios?

a alma pede corpo,
mas os carinhos se escondem embaixo do tapete.

segunda-feira, março 04, 2013

pensei em você
talvez por alguns segundos
(ou dias)
olhos mãos cheiro e roupa
dançando um tango comigo.

me levou para um jardim
depois me girou para a praia
meu corpo se curvou
em ondas sinceras
quando o mar me tomou dos seus braços.

whenever I feel

meu deus, o que é essa angústia tão forte dentro de mim? parece que tenho uma bomba no corpo, pulsando mais forte que meu próprio coração. diz que precisa sair, que vai explodir a qualquer momento, ando de um lado pro outro, querendo que isso me deixe em paz, que vá embora, que pare de me possuir. mas isso continua, e parece que não tenho mais forças pra aguentar.
chorar adianta? escutar uma música que me abrace, que me ame tão profundamente ao ponto d'eu esquecer onde estou e para onde vou. pintar, escrever, tocar, desenhar? há alguma forma de isso sair de dentro de mim? posso devolver ao lugar que pertence? posso nunca querer ter sentido isso?
suspiros na noite sem estrelas, o barulho da chuva gotejando a rua ali fora, minhas mãos correndo do rosto até o estômago, pedindo para ficar só comigo mesma, sem essa sensação de que sempre terei essa companhia que me deixa sem respirar.
por quê? queria as respostas, as perguntas, o caminho entre esses dois enigmas, suas mãos para me ajudar a sair desse labirinto. não tenho nada e preciso me contentar com esse barulho sem notas e instrumento.

domingo, março 03, 2013

saudade

a saudade é como um pássaro que canta uma música desafinada. escapa da gaiola, bica a janela e às vezes consegue entrar em casa. quando entra, bate as asas sobre os cômodos já sujos e bagunçados e quebra tudo que está pendurado querendo há muito tempo cair.
não chamo por ela, fico deitada olhando as asas passarem por cima do meu corpo, uma ventania violenta que quase me acorda de um sono profundo. é mais forte que qualquer insônia, que qualquer raiva ou sentimento de querer ir embora. e, de repente, cansa de assobiar e volta pro lar de onde partiu. 
nessas noites chuvosas, em que só consigo pensar no tempo naufragado, nas guimbas de cigarro apagadas e nos meus pés molhados na areia, a única coisa que arranca vida da minha pele é esse canto. 
eu poderia dizer que é bonito, mas não é isso. nem maravilhoso ou triste. é uma vontade de viver tudo ao mesmo tempo, segredos, sopros, saltos na imensidão. 
talvez eu ainda queira voar com esse pássaro, não para a gaiola de onde veio, mas para algum lugar que só ele conhece. 

sábado, março 02, 2013


procurei um poema no armário
pra curar o meu cansaço.
só encontrei poeira e lembranças.

na cabeceira, um livro de prosa.
mas aquele estava cheio
de bocejos e insônia.

será que posso me salvar
um pouco dessa vida?
ela só inventa de querer me escrever.