domingo, março 03, 2013

saudade

a saudade é como um pássaro que canta uma música desafinada. escapa da gaiola, bica a janela e às vezes consegue entrar em casa. quando entra, bate as asas sobre os cômodos já sujos e bagunçados e quebra tudo que está pendurado querendo há muito tempo cair.
não chamo por ela, fico deitada olhando as asas passarem por cima do meu corpo, uma ventania violenta que quase me acorda de um sono profundo. é mais forte que qualquer insônia, que qualquer raiva ou sentimento de querer ir embora. e, de repente, cansa de assobiar e volta pro lar de onde partiu. 
nessas noites chuvosas, em que só consigo pensar no tempo naufragado, nas guimbas de cigarro apagadas e nos meus pés molhados na areia, a única coisa que arranca vida da minha pele é esse canto. 
eu poderia dizer que é bonito, mas não é isso. nem maravilhoso ou triste. é uma vontade de viver tudo ao mesmo tempo, segredos, sopros, saltos na imensidão. 
talvez eu ainda queira voar com esse pássaro, não para a gaiola de onde veio, mas para algum lugar que só ele conhece. 

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