domingo, dezembro 29, 2013

te quiero libre
te quiero flor
te quiero hermosa
llena de color.

aún que el mundo cambie 
y la primavera se va
te tomo una fotografía
y doy al mar.
deixa eu te contar um segredo. 
acordaram hoje as horas soprando o tempo contra mim, dizendo baixinho nos meus ouvidos que não há barco no mar nem bicicleta na avenida. 
pediram pr'eu deixar o café da manhã pra depois e correr contra o vento, empurrá-lo para outra direção em que só nós dois conhecemos. 
os abraços não foram embora, apenas descansam em jejum um calor que perpassa o corpo inteiro. corpo que cala, mas que quer cantar um bolero desses espanhóis em que a dança se torna meio beijo e sorrisos.
dança comigo? abre a porta de casa e deixa a janela ser quadro do mundo. passos em falso, corpos girando, pula para o jardim cheio de flores, verdes, azuis e violetas. dança um encontro cheio de desencontros, mas livre para abraçar o agora, o sempre e talvez depois um nunca mais.
não é tão segredo assim, porque meus olhos escancaram o peso da alma, mas a dança, o jardim e o abraço se escondem dentro de mim, e agora te dou tudo com essas palavras que sem controle transbordam pelas brechas de qualquer cadeado.

sexta-feira, dezembro 27, 2013

às vezes não entende
a poesia
o que se sente.

é incapaz de com suas asas
voar baixo
e tocar a dor, a tristeza
e o amor.
mania de não escutar nada,
de andar com os pés sem rumo,
cabelos perdidos no mundo,
de jogar o corpo inteiro
guardando segredo por todos os lados.

mania de chorar escondida,
de escutar zeca baleiro e 
paulinho da viola,
de cantar a desilusão várias vezes
por ter acreditado em qualquer coisa
que bateu forte quando quebrou.

mania de ir embora depois
mas de sempre acharem que fui antes
de não abraçar forte quando quer
de tentar dormir sem conseguir
e de agora querer um momento a mais com você.

quinta-feira, dezembro 26, 2013

os dias já não têm horas que me esperam,
os anos já não me encontram mais.
calada, guardo nas mãos qualquer coisa:
uma saudade,
um sopro,
um suspiro.

a vida que passou já não me serve
- dos passados guardo apenas os passos
embriagados e tortos como meus pés.
se hoje fosse o domingo que te conheci,
a primavera sorriria feliz
e os cantos seriam abraços.

mas hoje é qualquer dia.

não chove nem faz sol.
é morno como um adeus há muito dado.

teu rosto já esqueci
nas ondas do céu adormecido.
o cheiro se foi e mora hoje
numa Índia não descoberta.

poema para minha vó

deixo para o esquecimento
teus cabelos brancos
a falta de ar
o medo da morte.

ainda não fui te visitar,
pois guardo o choro contido em mim
das idas da escola até em casa, passeios
rápidos com a bengala e boina de meu avô.

tuas sílabas soltas de abraços soluçantes
gritos intactos das lembranças de outrora
pássaros que cantam a memória de todos nós.

te dou fotos, desenhos e beijos
que tanto alimento no baú do quarto da penha
balanços vazios, corredores sem crianças
a cozinha não tem mais pastéis nem bolos.

é natal, e o hospital está cheio
os olhos pedindo casa
a vida pedindo fica.
guardo o adeus nesses versos
tentativa de ser anos atrás.
deitei os olhos no céu
e desenhei com o sentir teu sorriso
cor de nuvem 
e meio tempestade.

o sol pede um abraço
e canta uma lembrança da lua para mim.
tenho medo de incendiar o corpo
e não achar o caminho de volta pro mar.

se eu pairasse o pensamento no vento
ele o levaria para onde você está?
o céu é muito grande
o sol muito explosivo
a lua chama meus delírios
mas o vento
o vento vai para qualquer lugar.
(basta um sopro)

quinta-feira, dezembro 19, 2013

lágrima

não chorei rios
nem um oceano.
tampouco alaguei lembranças
ao som de festas e corais.

caiu uma lágrima
tulipa solitária
pedaço fugidio de mim.

era ela
o abraço nunca dado
os segredos esquecidos
a dor do parto de se nascer felicidade e angústia.
Molhei os olhos no mar
e sequei os pés nos finos grãos
sem querer deixei para trás o teu abraço
sem querer te deixei escorrer
entre as minhas mãos.

Acordei sem vestígio
do alto eu um tiro
no céu que pendura as lembranças
é o mesmo céu de onde me atiro.

Amanheço as estrelas em segredo
levanto o corpo tolo em enredo
junto o canto a navegar tua pele
deixo o corpo todo a nau que tu navegue.


com Felipe Andrade
mataram minha mulher.
não sei até hoje o que senti, em 1982.
só abri os olhos quando me lembraram que era verdade.
um tiro no banco, mas também no coração.
foi-se embora a mágoa, a felicidade e o meu filho em seu ventre.
se fazia frio, se havia pessoas sorrindo na rua e o natal chegava,
eu não sei.
lembro apenas do mundo embaçado, da minha pele cor de arrepio,
do prédio de 19 andares de onde não me deixaram que me jogasse.
bruta flor, diamante não lapidado, sonho de uma noite de verão.

é a vida esse fragmento rabiscado?

quarta-feira, dezembro 11, 2013

desamparo

deitei as mãos no umbral
como quem escreve as dores no papel
parte presa, parte pássaro
pedi pro céu carregar meu olhar.

a angústia escondida na casa que sou
a vida escapando janela a fora
deixei a poeira escolher seu lugar.

o que resta são os móveis
gavetas cheias de acasos e segredos.
e o jardim
que finge abrir flores de eternidade.
saí para dar uma volta no céu. beijei estrelas, soprei universos. também caí de cabeça para baixo no asfalto, me queimei com a dor desse mundo tão grande, tão injusto. as mãos quebradas, sem suportar o peso da incompreensão, dos buracos sem fim e da morte de cada dia.
sempre quebram minhas mãos
testemunhas de crimes vizinhos.
é que derramam sonhos
em rios sem barco ou vestígios.

os toques ficam perdidos nas águas
do gole ao beijo
não sei se te mergulho
ou se me deixo afogar.
pulsa.
que a vida é canto sem demora
sem ir embora
fica,
que o mundo não gira mais
mas sofre
chora
dói. 

e agora, o que eu faço?
se nas mãos só tenho areia seca
que em um dia tocou o mar na lembrança
e agora foge das ondas
a escorrer como suor.

senta comigo,
não tenho banco nem praça
só o balanço pelas ruas cansadas.
te chamo pra fugir dessa história
cheia de mágoas, rachas e razão.

fecho os olhos,
não para dormir,
mas para espantar o choro
esse que me acompanha quando lembro
que tudo é tão maior que nós dois
que nossas mãos dadas escondidas

e até mesmo que o amanhecer é cúmplice de todos os crimes...
quero morrer de amor
mas que não pare o coração!
que não faça órfãos os sentidos,
nem a indiferença me tome irmã. 

um rasgo na pele
é a memória perdida
é o esquecer do teu sorriso
me dando bom dia.

o anel que tu me deste não era de vidro,
mas de poesia.
às vezes voa pra longe
e esquece o caminho da partida.