terça-feira, abril 28, 2009

na minha [casa], eu [m]i[nto].

você me deixou de joelhos
no altar da igreja do mundo.
um anel de pensamentos no meu dedo,
um anel de sonhos enferrujado no chão.

partiu rasgando meu véu,
arrastando-o pelas escadas sem fim.
caíram lantejoulas feitas de pele
pelos degraus cada vez mais átomos
que você ousou descer com pressa sorrindo.

meu deus! - um grito.
fui cortada ao meio pela música
do órgão que não cessava.
as notas invadiram minha voz!
e, ao levantar-me, cantei,
enquanto jogava o buquê de folhas secas para o alto,
bem alto, infinito,
______________ não volta mais!

corri.
corri de-ses-pe-ra-da-men-te.
pelo tapete vermelho rasgado.
meu vestido se ia dissolvendo,
sumindo, deixando de ser.
até me criar nua.
nua em completo,
sem lágrimas, sem vastidão,
sem anel, sem mim.

rolei pelo caminho,
grudando ao meu corpo as pétalas que não caíram.
meus olhos respiraram o céu de fora,
e chorei um choro de falta,
ao tocar na água limpa
e não mais ver seu rosto de noivo-mulher.

quinta-feira, abril 23, 2009

em um segundo.

Sinto falta daquela brisa. Aquela que trazia junto consigo as gotas do mar e um pouco de cada pessoa. Gostava de ser tocada por cada pequena parte de cada grande sentimento. Eu me sentia viva, dentro do mundo, dentro do mínimo que se maximizava quando me nutria. Mas girou o uni_verso em_versos in_versos...
Um grito dentro de mim silenciou: volta. O vento tornou-se vácuo, o mar tornou-se sal. Fiz o meu casaco de balão e soprei soprei soprei. Precisava inventar o ar. Mas não sabia para onde ir. Porque não havia mais onde ou quando. Apenas... as minhas pernas fora do chão e o meu corpo flutuando pelo céu azul.
Reparti os meus cabelos ao meio e fiz um lápis de fio molhado. Desenhei, em uma nuvem, uma janela para o passado, e minhas lágrimas, ao vê-lo, inundaram o mundo. Criaram novos oceanos salgados, com peixes brilhantes carregando sinais de trânsito e de todas as dores do mundo. Peixes verdes, amarelos e vermelhos, que se esbarravam por todos os lados.
Não consigo compreender ainda como tudo tornou-se o agora. Mas é. E o que vejo me invade e se torna parte de mim tão perfeitamente. Não posso nem ao menos fechar os olhos, porque os peixes não têm pálpebras e a visão deles é também a minha visão. Meus olhos são caleidoscópios invertidos e milhares.
Quando pousar os pés de sapatilha arco-íris na terra firme ou na areia movediça, preciso conter minhas gotas infinitas. Porque já irá ser hora do sorriso girar as flores-cataventos ao redor da vida.
E eu serei a sereia da brisa que voltou a habitar minha face.

quarta-feira, abril 22, 2009

expressão da falta que é sempre preenchida?

há pessoas que têm dinheiro,
há pessoas que têm amor.
eu não tenho nada disso:
tenho medo.

o dinheiro de nada me vale,
prefiro as notas em que escrevo.
e o amor...
esse não se tem.
se sente.

por não ter nada
que normalmente todos dizem ter,
tiro os óculos do mundo
e deixo que me vejam puramente embaçado.

o meu medo é feito de cartolina,
com canetinha e colagem de cordel
e está guardado profundamente
dentro das minhas palavras,
que, você sabe, são sempre silenciosas.

medo ao avesso.

tudo o que sempre quis foram pétalas.
coloridas, secas, vivas.
cada cor dentro de um baú:
guardá-las é parte do meu sonho.

mas a vida soprou-as para longe,
para além do meu jardim.
e minhas flores antigas
tornaram-se nada mais que botões sem tempo.

colei todo orvalho pelo meu corpo
e me fiz flor por um momento.
meus cabelos tornaram-se as pétalas,
e minha alma gritou: eterniza!

terça-feira, abril 21, 2009

Abstrato.

caiu o seu retrato da parede
e sua face espalhou-se sobre o chão da sala.
suas expressões correram para os cantos
e guardaram-se nos buracos dos sentidos.

corri atrás do seu sorriso,
capturei-o na tocata de sua fuga.
beijei, amei e senti:
joguei-o no bolso da arte.

comecei a pintar um quadro difuso,
onde coloquei o seu sorriso
no centro do pensamento.

delineadas as linhas,
coloridas as formas,
seu sorriso chorou
por falta de todo
e solidão expressiva.

domingo, abril 05, 2009

a terra é plana.

quero chorar.
agora.
o completo mar que está dentro de mim.
colocá-lo para fora em um grito que afogue o mundo!

pois minha mente já está inundada,
e os sentimentos flutuam pelas minhas veias,
como uma navegação desequilibrada e caótica,
perdida no oceano eterno de vida submersa.

respiro.
e a água penetra meu coração,
enche meu corpo tão completo
de sal e areia e marfim.

a escuridão me toma,
me beija, me escolhe,
me silencia.
é surda, muda e cega.
me quer amar e perder.

mas quem se perde sou eu
na linha do horizonte,
sem antes nem depois,
caindo na idéia do velho mundo...

de que o mar acaba em um abismo sem fim.