quinta-feira, junho 04, 2015

a gente procura, escava nas palavras a saída para nossa solidão.  as dores (a do poeta, a do que se cria, a do que se recria e a que tenho) até se misturam, mas nunca se encostam. 
sinto nas palavras átomos milhares que juntos formam imagens, luzes, desenhos que parecem ser uma unidade completa, interligada. na verdade, é uma distância infinita e inimaginável que existe entre cada um deles, entre cada ponto do universo. 
e é nesse espaço subreptício que vive a solidão.
em cada morte, uma esquina
muros descascando o amor, a felicidade
tudo é pó na rua por onde voo
brilhos que um dia foram estrelas
hoje só lágrimas, suor do mundo.
em cada esquina, uma saída
fui desmaiando pelo caminho
abrindo portas, quebrando janelas
arrastando meus milhares de olhares
sem foco, incertos no que vem.
em cada não, um adeus
abraços partidos, risada escondida
é a vida um até logo?
de mãos dadas com o vento,
sou semente,
soprada, cadente, esperando florescer.
há uma vida em minha insônia
às vezes dorme, perdida entre as pálpebras
ardente de sonhos, de saltos na imensidão
nada sabe das sombras que me habitam.
escorrega do mundo pra cama
pede silêncio no meio do show
água! mas é tanto whisky...
percorre meu corpo sonâmbula
a carne viva que ilumina as paredes
quer calmaria, paz, escuridão
te dou um par de olhos incansáveis
vermelhos, velhos, sedentos
piscando universos,
cerrados somente no fim.
guardo em mim sei lá quantos silêncios
um esquecimento do ontem precoce
uma angústia que não é bem minha
mas do que me controla
que pede viagem
sereno e solidão
será que é fuga ou coragem?
essa mania de ir embora
quando a noite chama
incendiando o adeus...