sexta-feira, fevereiro 18, 2011

tenho em mim agora tantos sonhos, tantas mudanças e tanto desespero que não consigo nem mesmo me mover para o chuveiro. é que algo me diz pra ficar, pra correr os dedos por aqui e chorar tudo que preciso chorar.
preciso de um banho, estou imunda. preciso dizer que estou com raiva, que quero um abraço forte e que acabei de lembrar que há chocolate na geladeira -e que logo irei comê-lo-.
quando saí de lá, senti o desamparo da madrugada, o peso de ser mulher e correr sozinha por esse mundo sujo e sem escrúpulos. logo terei que acordar para ir dar aula, não poderei nem sequer descansar em paz minhas tantas incertezas que dominam tudo que penso nesse exato instante.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

minhas palavras finais pra você...

minha vó se foi e já deixa saudades.
como aquele cheiro de flor dando adeus, mãos atadas ao peito e um brilho ainda suave na pele. tenho tantas coisas para jurar... e a primeira delas é que tentarei não ficar triste com as lembranças.
quando pisei naquele antro de pessoas que não via há anos, os olhos querendo transformar a sala em um rio minguante, entrei em um desespero de me lançar aos quatro cantos em pedaços. um sofá e mãos no rosto foi tudo que consegui projetar.
o caixão bem à frente, o tumulto, os rostos de preto, o meu choro tremendo o corpo todo. eu só conseguia pensar: minha vó nunca mais vai me responder.
e se foi. e por isso a morte me assusta. porque se vai para nunca mais voltar. nunca é um tempo demais, é algo tenebroso e sem sentido, é sentir falta pra sempre. quando levantei e vi seu rostinho com que até pouco tempo eu costumava brincar... seus cabelos que não serão mais feitos de modelo para maria-chiquinha, as mãozinhas atadas como que em uma oração santa e alheia das explosões do mundo... quis dar um grito. que me chamassem de louca, que me dessem um tapa na cara para que eu percebesse onde eu estava.

dói. bastante. quando minha mãe me acordou e disse 'priscila, sua vó faleceu', eu quis me enterrar embaixo do silêncio, bater a porta do presente e denunciar ao mundo tudo que queria ser chorado. lembro de ter dito incontáveis nãos, de minha mãe ter resmungado que não deveria ter me contado naquela hora, da porta fechando e do telefone tocando várias vezes.

no carro, um choro de realidade. o pé no chão, um segurar tudo dentro de mim pro corpo não desmontar. com o cheiro de flores, o sufoco de dizer adeus e tocar a frieza que agora se tornara minha vó.
penso agora em como você está, o corpinho encolhido, as baratas passando pelos dedos, pela boca, pela sua santinha que tanto segura na mão.

se de tudo isso eu pudesse guardar alguma coisa, seria teu sorriso naqueles dias distraídos, quando a lucidez ainda vinha se alimentar dos sentimentos e da luz e do ar em volta... e da vida.

domingo, fevereiro 13, 2011

pra passar.

o céu de brasília é uma das coisas mais lindas que já vi. junto com o vento no cabelo, o coração palpitando com o peso das horas (ou dos segundos), o cheiro escaldante do que sei que não é possível... joguei tudo isso dentro da mala e guardei pra mim, quase como uma lembrança para tocar daqui a dez anos.