quarta-feira, dezembro 24, 2008

O anel que tu me deste era vidro e se quebrou...

Se pudesse, teria apertado o coração. Se pudesse, realmente, teria feito tantas coisas... Levantar, jogar os travesseiros pela janela e sair correndo pela rua. Queria apertá-lo para senti-lo, pois agora ele batia de uma forma avassaladora e ela tinha medo que aquilo fosse momentâneo e que estivesse gastando a bateria que nunca se renova.
Eles estavam em um restaurante à moda antiga, com violinistas, mesas com pano vermelho e rosas por todos os lados. Mal chegaram, ela quis ir ao banheiro. E que banheiro! Espelhos gigantes e com bordas francesas, todo dourado, pinturas na parede... Ela passou a mão por tudo, por tudo, apesar de sentir o vidro (e não a realidade) tocar seus dedos. Aquele tinha de ser o dia mais feliz de sua vida! (se o banheiro era daquela forma, imagine o que mais estava por vir!) Sorriu devagar, com um certo ar de realeza. Passou a mão pelo seu corpo e suspirou. Era linda.
Voltou para a mesa. Ah, queria-lhe dizer tantas, tantas coisas, que cada palavra poderia ser o infinito mais um. Passou a mão pelos cabelos e sua voz soou estranha e com vontade própria.

- Estou muito contente por ter-me trazido aqui - Não! Não era assim que devia ser, não eram essas as palavras que pretendia dizer. Ela queria gritar e pular-lhe no pescoço! Emoção, meu deus!

- Faço de tudo para agradar-lhe, meu amor - Ele correspondia, oh, com toda a alma. Seus olhos verdes eram os mais lindos do mundo e tinha certeza que uma surpresa (prevista) aguardava-a.

A comida chegou. Não lembrava de ter pedido peixe. Não, devia haver algo errado. Ela não gostava de peixe. Gostava de massa. Por que estava comendo peixe? Não importa, não importa. Ele está ali, com ela, e tudo parece eterno. E ela estava tão linda, tão perfumada (com aquela aparência, imagina-se o cheiro suave, como em uma sinestesia) e os momentos eram perfeitos.
Só sentia-se confusa com as conversas sobre lembranças, férias de quatro anos atrás e passeios caros e divertidos. Devia ser o vinho. Nunca gostou de vinho branco, mas parecia combinar perfeitamente com o peixe, então deixou-se beber. Sentia-se como se não tivesse escolha.
E talvez não tivesse, pois queria continuar sentada, mas dirigiu-se novamente ao banheiro. Foi retocar a maquiagem e fazer uma ligação importante, simples, falou automaticamente e nem prestou atenção ao que estava sendo dito. Lavou as mãos delicadas (esmalte rosa claro, que maravilha) e voltou ansiosa para o seu amado.
A iluminação do restaurante estava mais escura, e achou isso um pouco estranho. Talvez estivesse com dor de cabeça, quem sabe. Mas e daí? Os violinistas aproximavam-se e ela sentia o que estava por vir.

- Meu amor... você é a pessoa mais especial para mim, amo-a de todas as formas possíveis, gostaria, neste momento, de pedir-lhe em casamento - ajoelhando-se, abriu uma caixa com um anel de diamantes dentro.

Tocava uma música melódica e romântica ao fundo, quando...

Blackout.

A casa inteira apagou-se. Um homem pelado saiu do banheiro aos gritos, dizendo que a água estava congelando, e que a mulher sabia porque sabia que não podia deixar a luz acesa com o ventilador e a televisão ligados, enquanto ele toma banho. Ela estava paralisada ainda, em choque, com os lábios entreabertos, como se fossem proferir algo, mas não conseguissem. O homem ligou para o síndico, aos berros, dizendo que a casa não tinha luz e virou-se para a mulher reclamando que demorariam dez minutos para mexerem no relógio, e, pelo amor de deus, ele teria que ficar emsaboado até a água quente voltar. Resolveu ir para o quarto.
Ela ficou sozinha, olhando para a televisão, as mãos sobre as pernas, tímidas e piedosas. As unhas não eram rosas, mas sujas e roídas. Dez minutos. Não haveria mais casamento. Ela não aceitou. Ela não conseguiu aceitar. E agora estava na completa escuridão.

Uma lágrima saiu de seus olhos, quando as luzes acenderam-se. Ligou a televisão rapidamente, mas já eram oito horas.
E eles viveriam felizes para sempre.

Resolveu ir passar roupa.

8 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do final hahaha. Bela transição ;)

Unknown disse...

ah, eu gostei muito. *-*

Raphael disse...

pura realidade brasileira, viva terra brasilis!
adorei o texto ^^

Anônimo disse...

essa do banho com outros aparelhos ligados juntos acontece em casa...rsrs

um feliz natal e um ótimo ano novo!

Anônimo disse...

kkkkkkkk. O chuveiro ia desligar de novo quando ela ligasse o ferro. kkkkkkkkkk. Aconteceu algo parecido em casa. Mamãe estava no banho e a resistência do chuveiro queimou. Ela saiu reclamando muito com o papai que fica fazendo gatilhos em vez de comprar um chuveiro novo. Papai foi consertar o chuveiro reclamando que não era pra tomar banho ali e ir tomar na casa da vizinha. kkkkkkkkkkkkkkkkkk

Anônimo disse...

Não sei..Quem é Tarsila?
Tô até agora tentando imaginar o homem saindo do chuveiro sem água gritando..rsrsrs..Mas o casamento q n aconteceu tornou o cômico, triste..
Bjs!!
=1

Alan Araujo. disse...

O final foi realmente legal. E eu nunca vou pedir ninguém a casamento :D

Anônimo disse...

Eu sempre gosto muito. Dos textos... e da escritora também. :D