terça-feira, abril 10, 2012

sinto muito

o século XXI está me engolindo. os carros correndo, os ônibus super-lotados, os tiros da polícia na favela, a vida em via crucis. há algo que não estou suportando. eu sou fraca? sozinha? parece que minha mente é um labirinto imenso cheio de cadeados. onde estão as chaves? eu não sei. as passagens? trancafiadas. nem sei para onde estou indo, mas sei que caminho...
eu, passageira de mim, agora na chuva. os respingos parecem cinzas de um cigarro velho, nem mesmo a fumaça encosta mais nos poros. a tinta vermelha dos cabelos escorre pelo corpo, parece sangue, mas não é. esse está na veia, também preso e querendo escapulir para o mundo.
os dedos nervosos pedem socorro. o que vou escrever? sobre a anestesia? sobre eu estar em constante cirurgia? engulo as pílulas como quem pede para morrer mais rápido. por favor, uma solução um arrependimento onde ficaram aqueles sorrisos? na rede balançando no quintal? nos pés cheios de lama correndo pela rua?
eu queria... deixa eu ver, pensar bem, queria não estar com a mente num náufrago. parece que há água saindo de meus ouvidos, de meu nariz, de meus olhos. e a boca presa pedindo pelo amor de deus para gritar e respirar um bocado desse céu estrelado que agora me guarda da chuva.
a casa é uma prisão. não posso dizer que quero morrer, é errado, faz mal aos outros. nem mesmo na dor que sinto posso sentir algo direito, senão estou sendo culpada. não posso dizer que não aguento mais nada, que nada é mais gracioso, que não quero levantar. quero olhar o teto, ou fechar os olhos e dormir. adormecer nesse momento é a melhor coisa, porque dormindo se esquece de tudo. e, quando você acorda, por alguns segundos, você nem sabe quem é ou onde está.
quando entro no chuveiro, a água parece falar comigo, diz que quer lavar toda essa sujeira que não sai do meu corpo. eu esfrego dos cabelos até a ponta do pé, mas tudo permanece, é como se a minha sombra se impregnasse em mim e não soltasse nem mesmo na escuridão. é a liberdade sendo tomada em goles secos.
se eu pudesse, abraçaria a música que agora toca. agradeceria por me fazer sentir o que quer que seja, um ódio, rancor, amor? mas ela passa por mim sem nem mesmo deixar o silêncio no ar.
respiro em vão.

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