quinta-feira, janeiro 28, 2016

tenho olhado muito pras paredes. sinto nelas um corpo vivo escorrendo minha solidão. são elas as únicas irmãs que me abraçam enquanto choro, que seguram minhas mãos nestes dias que já parecem uma vida inteira.
posso encostar a cabeça em sua pele fria e escutar, devagar, um ruído que são os dentes do passado, a calmaria de mastigar o vazio. há dias meus olhos são como estátuas fugindo da arte...
olho pras paredes como quem espera um milagre. espero, cansada, que desmoronem, mas cada vez mais se edificam. são como um padre aguardando a confissão. santificadas, me pedem paciência. desesperada, quase crio um altar e peço pra que me salvem.
há dias que falo com as paredes, há dias em que escrevo. não é a mesma coisa? esse pedaço de loucura que é dar a mão a si mesmo. essa espera de que uma bomba exploda na rua ou de que alguma palavra se torne, enfim, um gesto...

Um comentário:

Juliana Gelmini disse...

Lindo! Também sinto igual, como você disse "há dias que falo com as paredes, há dias em que escrevo, não é a mesma coisa? esse pedaço de loucura que é dar a mão a si mesmo, essa espera de que uma bomba exploda na rua ou de que alguma palavra se torne, enfim, um gesto..." <3