domingo, setembro 24, 2017

tu às vezes me contesta, eu que me apego com muita força às inutilidades da vida, e com ar de quem é feliz, de quem respira tranquilamente, me diz: cabelo é célula morta, não dá pra tratar. 
eu fico de repente estática, se é possível estar mais do que já estou há dias sem conseguir levantar da cama. meu corpo levanta, máquina que é, e vai trabalhar, pagar as contas, mercado e louça. eu fico pra sempre deitada.
então o cabelo está morto. assim como nossas unhas. como a morte já é presente, como cuidamos da morte que há em nós! pra morrer basta estar vivo. o começo já tem em si o fim, eu entendo. não é que todos os dias, meses, cresce a morte em nós, e cortamos, pintamos, decoramos, até que ela renasce, renasce mais uma vez.
é claro que tenho mania de embelezar a morte. ela está aí para me lembrar de muitas coisas, e quanto mais bela mais fácil é amá-la. dá, sim, pra tratar do cabelo. tudo na vida não passa de uma questão de estética, até a morte - tão vaidosa.

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