segunda-feira, setembro 24, 2007

Final Ao Vento.

E então ela abriu os olhos. Mas não viu nada, nem mesmo um borrão em sua frente. Estava anestesiada, dolorida, não-sentida. Tentou levantar, mas o peso de seus longos cabelos a jogou no chão. É estranho pensar em o quanto um cabelo pode pesar, assim, e levar em si toda a consciência e carga de sentimentos de alguém. Seus fios eram grossos, mas lisos, lisíssimos, tão lisos que o vento conseguia passar por eles sem levantá-los. Na verdade, lá não ventava. Nem fazia frio ou calor.
Apenas nada. Demorou um pouco para perceber que não estava respirando. Estava apenas... deitada, sem forças, onde? Na escuridão, no completo ermo e vazio. Arranhou o corpo sem as unhas, apenas com a mente, mas não conseguiu sangrá-lo. Lembrou-se que sempre o sangrava, sempre, escorria o sangue de sua alma para seu corpo; tal como as lágrimas. Porém agora não conseguia fazê-lo: desesperou-se.

Ah, o desespero.

Fez forças. Fez forças. Fez forças. Tanto fez que conseguiu sentar-se. Seu corpo inteiro doía, e doía muito. Não compreendia. Como se poderia doer se estava morta? Foi a única explicação que conseguiu encontrar: a morte. Não respirava, não se arranhava.

E se doía.


Ela nunca havia se doído antes, mas já ouvira muito falar em pessoas que sentiam tal dor. A dor corporal. A dor que não sangra. Esta segunda lhe era a mais espetacular, a mais especial, a que nunca imaginara, a que sempre almejara. Queria realmente ser parte do filme de pessoas sorridentes, tristes. Sorridentes e tristes. Um equilíbrio. Mas por que ela não podia ser equilibrada? Por que ela não tinha peso? Oh, meu deus! Ela não tinha peso, como podia ter uma balança sem pesos?!
Ela não sabia.

Mas estava ali, e isso importava. Importava a dor que sentia e que, por alguma razão anexada, ninguém nunca entenderia.

E as pessoas passavam, olhando-a, extremamente entediados.
Apenas mais uma perdida, louca, mulher.
Menina.

Doendo, sangrando com a mente e com as unhas, doendo muito.
Mas ela nem piscava. E eles nem olhavam, mas respiravam.

Enquanto era apenas aquilo, sorriu sinceramente, sem nexo, sem sentido, apenas sentida e escondida. Sorriu, sorriu.

E não enxergava nada.

5 comentários:

Anônimo disse...

Apenas mais uma perdida, louca, mulher.
Menina.

Gostou de outras partes também, mas... não sei o que comentar ._.

Anônimo disse...

Me senti vazia ._.

Anônimo disse...

Já comentei pelo msn. E que não saia de lá. :]
Eu amo como vc escreve.

Anônimo disse...

não sentida. que horror, a pior coisa!
mas depois, quando doí, sente, não? é uma forma.

Unknown disse...

É a mulher louca dos gatos! ;]
Essa história me pareceu ter alguma continuidade com a anterior!