sábado, fevereiro 25, 2012

canção

não estou pedindo nada. nem um pedaço de fotografia nem um sorriso quente de um dia de verão. não quero fazer disso uma tragédia grega ou um daqueles filmes que guardo com carinho na minha instante. só quero ir, voar pra longe, onde o canto de ossanha seja enganado, onde eu possa ser um rabisco que se sente livre apenas por ser o que é: um pedacinho de formas e sentimentos que, mesmo feios e sem nexo, são também verdade e uma vida pralém da respiração.
cansei. não de te escrever textos que não são nunca lidos ou de te olhar sem perceber o tempo indo embora. mas de algo que não consegui ainda explicar para mim mesma, acho que é uma vontade (uma sede) de querer mais, de ultrapassar somente a pele à angústia, de encostar os dedos nos dedos e não haver ali uma única célula que não saiba seu lugar no universo.
se eu pudesse, te abraçaria, te colocaria junto à poesia que está batendo no meu peito, te daria um nome que prefiro agora não nomear. mas, dentro de toda essa loucura, dessa palpitação, desse pulso inconstante que me toma a goles longos, algo grita que é hora de fechar os olhos, acabou o conto, o poema partiu para pasárgada (ou para qualquer lugar onde possa ser chorado com calma e amor).
o fim não justifica o meio, pois o meio já é parte do fim. e eu sabia disso desde o começo (se é que houve algum), já sentia as cores escorrendo pelos meus dedos, como ondas entreabertas num poema da cecília meireles. eu queria dizer que não vejo o horizonte nem acho que o mar cai num buraco sem fim. mas que me deixei afogar dentro desse emaranhado de águas salgadas (de choro) e limpas (de um sentir sincero). agora é hora de respirar, de deixar a inundação transbordar do corpo para o mundo, como as notas fugidias do piano ao ser tocado levemente pela primeira vez.

5 comentários:

Leituras do Prazer disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Beatriz Machado disse...

Isto é ser poeta...captar algum sentimento, algum grito silencioso que ecoa dentro de alguém, libertar o quer calar!

Leituras do Prazer disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carinne disse...

como você sabe usar as palavras. agora elas são mais do que isso. sao sentimentos. sublime.

Maria Leão da Rosa disse...

As feridas abertas latejam por muito tempo até virarem coceira e, depois, lembrança. Ainda bem que há feridas que latejam em poesia (mesmo quando essa assume a máscara da prosa).