terça-feira, outubro 22, 2013

foi ontem que quebramos o vidro daquela casa. só que não sabíamos que ao deixar as pedras caírem no chão o que caíam eram nossos sonhos. pesados, escondidos e com o gostinho de travessura, mas ainda assim não imunes à gravidade do tempo.
você foi embora e levou as assombrações daquelas salas, os olhos atentos às árvores sombrias do quintal e seus penduricalhos que nos lembravam bruxarias.
também foi outro dia que sentei no sofá e chorei. escrevi minha primeira carta inventada. eram palavras para minha juventude adormecida, escondida entre as palavras corridas e longínquas. era uma vontade de amar alguém que dorme, alguém em coma, que pudesse descansar em paz enquanto eu lhe dava amor e poesia.
hoje escancarei os olhos pelo ônibus. as casas e árvores correndo do lado de fora. minha vida ficando para trás, mudando a cada sinal vermelho, transfigurando as pedras e cartas já partidas. se pudesse escolher um momento, não pediria por ontem ou pelo outro dia, mas um segundo de silêncio nesse mundo.

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