- estou enlouquecendo, carlos. e não há hospício forte o suficiente para aguentar a minha loucura, a minha queda que é a própria gravidade.
o homem piscou os olhos, como quem tenta tirar poeira dos cantinhos da vista. talvez uma tentativa de entender o que essa mulher sentia. era dor, era tristeza, era tédio? não sabia, talvez nunca viesse a saber.
mas é na desconfiança que se criam os laços. não na desconfiança dolorosa cheia de rancor, mas na falta de confiança numa certeza.
e agora? onde colocaria sua cabeça encostada? não há ombro que suporte esse peso nem cama que não pegue fogo com o calor dos pensamentos. talvez a jogue num parque com um gramado tão extenso que lembre as ondas do mar.
- são as cores de uma aquarela atiradas na parede de um quarto sem portas ou janela. é a embriaguez sem licor nem vinho, talvez de um café que se esvai com sua fumaça quente pelo mundo. sou o apito do silêncio nesses dias vazios e sem dó.
foi até o umbral respirar o vento, esse desses dias de verão que lembram a infância. talvez dar-lhe as mãos a console, é um gesto de presença forte, de desenho marcado para o momento da solidão. mas como se não lhe resta mais força para agarrar forte em qualquer coisa que emane o agora, o instante e a própria tentativa de escapar de dentro de si?
é o perigo da entrega. não resta força, mas sobra tudo que grita. são as curvas e contorno de frida kahlo, aparentes elevações de todos os sinais do mundo.
- sabe quem eu queria que estivesse aqui? não, eu também não sei. é possível alguém que me olhe e me escreva? também na arte fugimos. não por covardia, mas por libertação. peço apenas algumas linhas tortas, alguém que se faça de deus e que escute minhas orações. e que nesse momento guie meus passos.
não é fé de que precisa. é de sentir-se parte de cada palavra, da imagem que é a criação. é procurar no absurdo algo que seja aceito dentro do que entendemos. afinal, não a tiraria dali. não adiantaria levá-la para um passeio ou para jantar.
cansado, desolado e sem saída, começou a pintar seus contornos.
quarta-feira, janeiro 22, 2014
você me empurrou do quinto andar.
não o corpo
ou os sapatos
nem as flores que nunca existiram.
foram os gestos que te dei
embrulhados em fitas coloridas
e papéis regados de tempo e saudade.
o corpo livre dos abraços
não há marcas de unhas nas pinturas
nem o som do violão nas tardes de domingo.
não voei quando caí
talvez porque tivesse pernas
talvez porque tivesse mãos que fazem poesia.
mas não voei,
não voei.
e caí.
não o corpo
ou os sapatos
nem as flores que nunca existiram.
foram os gestos que te dei
embrulhados em fitas coloridas
e papéis regados de tempo e saudade.
o corpo livre dos abraços
não há marcas de unhas nas pinturas
nem o som do violão nas tardes de domingo.
não voei quando caí
talvez porque tivesse pernas
talvez porque tivesse mãos que fazem poesia.
mas não voei,
não voei.
e caí.
terça-feira, janeiro 14, 2014
você nunca me deu uma flor. estando num barquinho em veneza ou num ônibus na suburbana. sequer o cheiro das pétalas passou longe, essência de carinhos, saudades e paixões suaves.
por que, sendo tão humana, não tenho direito a segurar algo que se esvai como um sopro, mas que é belo, é belo, é belo. é o amor em formato de vida, é a vida em sua esfera mais animal e feliz.
não quero a delicadeza de uma margarida ou os espinhos de uma rosa. tampouco o sol que gira do girassol amarelo. quero sentir seu cheiro, o sorriso de flor se abrindo para o mundo e pedindo para ser tocada e salva do asfalto, que é a maior solidão que podemos ter.
quero uma flor pra guardar o tempo que cai em seus braços como o orvalho chega toda manhã. quero soprar seu pólen em minhas poesias frágeis e famintas.
você nunca me deu uma flor, porque a madrugada serena sempre volta, porque meus olhos brilham demais e meu corpo parece feito de galhos, folhas e pétalas.
por que, sendo tão humana, não tenho direito a segurar algo que se esvai como um sopro, mas que é belo, é belo, é belo. é o amor em formato de vida, é a vida em sua esfera mais animal e feliz.
não quero a delicadeza de uma margarida ou os espinhos de uma rosa. tampouco o sol que gira do girassol amarelo. quero sentir seu cheiro, o sorriso de flor se abrindo para o mundo e pedindo para ser tocada e salva do asfalto, que é a maior solidão que podemos ter.
quero uma flor pra guardar o tempo que cai em seus braços como o orvalho chega toda manhã. quero soprar seu pólen em minhas poesias frágeis e famintas.
você nunca me deu uma flor, porque a madrugada serena sempre volta, porque meus olhos brilham demais e meu corpo parece feito de galhos, folhas e pétalas.
tristeza canta o choro da aurora
das reticências entre mim e o adeus
das dores em trânsito,
viajantes do mundo.
versos multifacetários
invasores dos sopros de meu pensamento
escrevem sentidos em linhas tortas
e em linhas tortas uma reta sem fim.
retira, tu, essas rimas
de quem não sabe esperar
e foge, impaciente,
pra onde não haja canto
nem aurora
nem caminhos indecifráveis.
das reticências entre mim e o adeus
das dores em trânsito,
viajantes do mundo.
versos multifacetários
invasores dos sopros de meu pensamento
escrevem sentidos em linhas tortas
e em linhas tortas uma reta sem fim.
retira, tu, essas rimas
de quem não sabe esperar
e foge, impaciente,
pra onde não haja canto
nem aurora
nem caminhos indecifráveis.
segunda-feira, janeiro 06, 2014
samba do desencontro
grita, tambor,
o dia de ti ausente
passos na saudade pisam
no compasso sem batida.
com essa voz de cuíca
beija a poesia e os cantos distantes.
onde samba você?
danço na praia
acordo nos mirantes
e por aí escuto teu cheiro.
o dia de ti ausente
passos na saudade pisam
no compasso sem batida.
com essa voz de cuíca
beija a poesia e os cantos distantes.
onde samba você?
danço na praia
acordo nos mirantes
e por aí escuto teu cheiro.
por que o vento apaga o fogo
quando se esconde
a chama pelas cavernas e celeiros
nas noites frias
de carnaval a janeiro?
carregados de palavras não ditas
queima o mundo em segredos
rios secos e sem rumo
pelos fósforos nunca acesos.
abre tuas flamas, corcel sem dono
traz o vento nas asas
pula as luas sem ferir cicatriz
porque o que se é só se transforma
quando se grita o que nunca se diz.
quando se esconde
a chama pelas cavernas e celeiros
nas noites frias
de carnaval a janeiro?
carregados de palavras não ditas
queima o mundo em segredos
rios secos e sem rumo
pelos fósforos nunca acesos.
abre tuas flamas, corcel sem dono
traz o vento nas asas
pula as luas sem ferir cicatriz
porque o que se é só se transforma
quando se grita o que nunca se diz.
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