quinta-feira, agosto 24, 2017

sempre choro quando lavo a louça. não sei se também acontece com você, mas esse choro é pior do que aquele provocado por cebolas. é como uma cachoeira de água perfumada caindo direto da nascente da memória. quando começa, se apossa por inteiro de mim e já não tenho controle de nada. choro, como um verbo vivo e independente, como um filho que após crescido nos abandona e some no mundo. aqui no caso, vira água corrente, escorrega nos pratos, some no ralo. e de repente desagua em algum esgoto solitário, quem sabe, ou vira alimento de baratas.
me sinto meio máquina programada. é só molhar a ponta dos dedos que já nasce a primeira lágrima. parece um time-lapse de flor desabrochando - quem vê não imagina o tempo que demorou, o vento que por ali passou nem o cheiro que emana. por trás do vídeo tem um outro vídeo, que só vê quem é flor. quem não é ou não pode ou não quer ser acha que vê, mas não vê é nada.
você deve achar que bebi um conhaque ou qualquer coisa pra estar assim tão emocionada. juro que não bebi nada. aliás, acho que troquei o álcool por choro (quando não deveria ser o contrário, meu deus?). se tivesse aqui um conhaque (ou o poema sobre o conhaque) de repente terminava de lavar essa louça em paz.
seria bem mais simples: no fim enxugar a louça como quem enxuga lágrimas. não deixá-la jamais pela metade.

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