segunda-feira, dezembro 18, 2017

sempre no gerúndio, lendo tantas coisas de sobreaviso, tantas que chegam a parecer cartas sem resposta, sabe, daquelas que lemos um milhão de vezes e não achamos explicação, não, é impossível escrever qualquer linha quando o pensamento tem mais linhas possíveis do que um beija-flor bate asas em um segundo, sempre, sempre num gerúndio passado, um particípio a nascer, é quando me vejo ida, calada, lendo coisas que já estavam sussurradas ao pé do ouvido numa noite em que chorava profundamente a morte que nem havia ainda acontecido, como pode, sempre me perguntei, como pode enlutar-se antes da dor real, passar por cirurgias profundas sem haver ainda adquirido aquele tumor que achara ou achará em algum recanto de sua pele, essa que apanha sol como quem apanha peixes, com um medo estarrecedor de vê-los pular, se debater na dura e triste menção do fim que é a rede de pensamentos, onde agora me encontro, achando que entendo essa náusea que é mais tua do que minha, não, ela é pura, livre das amarras das minhas mãos dos meus olhos que escrevem qualquer coisa quando leem um pedaço de jornal que acha que é poema, porque é assim, assim mesmo, que se faz o que chamamos de salvação.

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