domingo, agosto 05, 2018

desastre seria, meu amor, se aquela casa construída de profundezas duríssimas fosse derrubada com uma gigantesca onda não prevista pela televisão. de repente a praia deserta tomaria corpo, ganharia vida, nasceu um monstro do notório nada, carregou consigo a doentia raiva dos corações partidos, a lágrima que vem pra dizer acorda, toma café, põe uma roupa e respira cheiro de qualquer coisa além do mofo dentro desta casa em ruínas.
isso seria um desastre. você sabe, não é? sua etimologia vem dos astros, do inadequado. nada como escrever um poema em prosa sobre as forças da natureza para justificar qualquer tragédia. escrever é justificar, é acalmar, é destruir. sou um demônio em fase de infância, passo a reconhecer lentamente minhas tiranias.
e uma delas é zombar do seu conceito de desastre. para mim isso é um milagre, uma dádiva. não houve onda, não houve deuses, não houve acaso. eu
eu fui até as raízes da morada e com minhas pequenas mãos arranquei a casa do chão e joguei-a pelos ares.
o nome disso é ato.

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