domingo, dezembro 10, 2006

Páginas em Branco.

Eu sou um livro sem palavras. Apenas com páginas em branco, prontas para serem escritas por você. Tome um lápis, escreva sentimentos. Apague-os! Mas, cuidado, a cada palavra apagada, uma parte de minha alma se perde. Ela voa para o esquecimento, como se você a houvesse matado a punhaladas e limpado seu sangue com suas páginas rasgadas.
Não, não suje minha brancura com promessas que serão perjuradas. Se, a cada lágrima caída em minhas folhas, você arranhar meu corpo com as unhas, eu me desgasto e acabo virando uma folha seca de outono. Uma folha que, ao menor toque, mesmo de serenidade, decompõe-se, sem querer, e ao céu se esvai. Portanto, não as derrame em minhas folhas. Use a sinceridade apenas quando ela é verdadeira.
Escritor, alimente-me com sua poesia, preciso dela para manter meus sonhos. Escreva suas figuras, sua coloração, crave em mim todos os seus sentidos, todo o seu mundo e desmundos. Porque eu preciso de suas palavras, sem elas, eu nada sou. Minha dependência surgiu quando minha capa foi aberta. Agora, não consigo mais deixar de respirar conotações.

" Palavra, doce menina,
Não me machuque,
Nem de noite nem de dia,
Porque machucar-me
É como feri-la de volta. "

Sei que um dia serei esquecido. Serei jogado no lixo, no esquecimento. E, então, perguntar-me-ei: "Para aonde foi o Era Uma vez?" E as palavras surgirão em mim, respondendo: "Ele se foi para longe, muito longe. E você não viveu feliz para sempre." Minhas folhas envelhecerão, até ficarem amareladas, serão solitárias e sem essência. Um dia, serei lançado ao mar, desprotegido, até cair em seu fundo e por lá apodrecer durante séculos.
Lixo? Serei pior que lixo. O meu valor terá sumido há muito. E aonde estará você, poeta que me criou? Cansou-se de mim, de suas histórias, que, com o esquecimento, viraram apenas estórias.

" Não voes para longe, ó poesia.
Arranca tuas asas
E fica comigo,
Em palavras,
Para sempre. "

Não o culpo, afinal. Culpo a mim. Por ter absorvido tanto sentir! Tudo se unia à minha alma. Cada sí-la-ba. Eram, enfim, meus pedaços pedindo por sustentação. Por sentimentos, por utopias. Principalmente pelo que emanava de você. Não conseguia sentir os risos, nem o drama, eu não conseguia comunicar-me!
Já fui esquecido. Por que usei do futuro, se tudo é passado? Tentativa frustrada de enganar-me. Quero meu conto-de-fadas de volta. Quero ter princesas, guerreiros, vilões. Quero ter uma simples menina, que escreve em seu diário, todos os dias, sobre seus pequenos problemas. Eu quero amor! Quero ódio! Quero vazio!

Eu sei porque me machuco. Sei porque minhas folhas pedem por leitura. Você, poeta, está morto. E morreu antes de terminar-me.

Deixou minhas folhas.

Em branco.

" Deixa-me seu vestígio,
Para que eu possa segui-la.
Caso contrário,
Morrerei, eternamente,
Sem absorvê-la. "


E fechou-se, adormecido.

Quem sabe, um dia, um principe encantado venha beijar suas folhas em branco, com palavras nuas...

3 comentários:

Anônimo disse...

muito bom (y)
um livro em branco na sua mão seria o mais feliz

Anônimo disse...

Só pra deixar registrado que AMEI esse texto.
Bjitos!

Anônimo disse...

Oi :)
obrigada pelo comentário, e vc tem toda a razao!
Amei o texto, ;)
beijões!