quarta-feira, junho 06, 2018

olá, meu amor, bom dia, sei que tem pensado muito sobre aquela casa na praia que há anos pensamos em comprar, pensamos, pensamos muito, sei tão bem quanto você o quanto pensamos na areia, nas ondas e até nos tatuís que hoje em dia já nem mais existem de tanta poluição, você sabia disso? não há mais tatuís por aí rodeando nossos pés e beslicando a ponta de nossos dedos. mas não foi culpa sua, eu sei que você esqueceu aquela guimba de cigarro e nunca faria isso de propósito, não quero que se sinta mal pela morte dos tatuís, mas você sabe, você deve lembrar, que quando falávamos da casa da praia, falávamos muito dos tatuís, e você até me disse que levaria seu papel e a aquarela para desenhar esses animais magníficos que ficam reaparecendo na minha cabeça, mas a verdade, a verdade mesmo, por favor não espalhe por aí depois de nossa conversa, é que nunca vi um tatuí, mas apesar disso sei muito bem como eles são e o quão importantes serão quando estivermos num asilo já com  a memória em frangalhos, tenho certeza que lembrarei deles e ficarei triste pelas gerações futuras que não terão a oportunidade de vê-los como agora os vejo, que sorte tenho, por outro lado, de nunca tê-los visto, não sei o que seria de mim se tivesse visualisado, mesmo que por um segundo, esse pequenino animal que tantas vezes percorreu meu corpo sem nem saber meu nome, sem saber das noites em claro, dos cortes de cabelo e da vida que gostaria de ter deixado para trás. meu amor, me desculpe, eu te acordei?

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