quarta-feira, junho 06, 2018

sinto muitas vezes uma vontade profunda de escrever um texto cru, comê-lo com as mãos, o sangue na saliva, dilatando minhas papilas, o gosto seduzente da vida ao avesso, depois penso o quão estúpido isso é, não existe essa coisa de texto cru, ele está sempre bem bem passado, tão passado que consigo vê-lo a quilômetros quando olho para trás, sozinha na estrada enxergo as palavras formando uma linha do horizonte, penso em tirar uma selfie para que acreditem em mim e não me achem louca, mas pensar sobre isso já é um ato de insanidade, também gostaria de falar sobre papoulas e fazer uma poética, como dizem mesmo?, uma poética solar, tudo que eu queria na vida era uma alma jogada no sol, mas você conhece o mito, ele está aí para edificar minha história, um texto cru, eu teimo em achar que existe aquela tal de mudança de valor linguístico e mando todo mundo esquecer de uma vez por todas a etimologia das coisas, mas existe algum tipo de mágica na origem das palavras, elas têm cheiro, antepassados, há uma inscrição profunda dentro de sua escritura, por isso quando penso em cortar os pulsos é por um texto cru que estou faminta.

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