sexta-feira, novembro 26, 2010

a violência sobe pelos braços, dormência única que não para a dor de ver e sentir o medo e o cansaço. quero um colete que prove que a vida ainda vale a pena para aquelas pessoas que me abraçam e me beijam e me pedem socorro com os olhares na televisão.
os corpos descem morro abaixo e parece -algo me diz- que são enterrados no meu quintal. vou deixar flores aos pés, mas o sangue faz nascer outra coisa da terra, algo gelado e quente, das entranhas do trabalho e do incômodo que é estar nesse mundo, assim agora sem saída sem nada mãos vazias e cabelos nos olhos armas apontadas para o nosso ventre - a vida que é violentada até no que poderia ser...
meu deus, e a escola? e a quintandinha do seu josé? e a igrejinha repleta de degraus para lugar nenhum oração quem sabe um pedaço de céu? quero abraçar esse mundo, ganhar esse sangue que cai não em gotas mas em metal duro e concreto, dar as flores que joguei nos túmulos e transformá-las no que sei que não pode ser feito só com flores.
tudo é violência. violência escondida, embaixo do travesseiro, pedindo para entrar e usar o banheiro da casinha. é preciso ser violentado - mais do que se já é - é preciso perceber a violência e amarrá-la e deixar que machuque e chorá-la e querer um dia poder arrancá-la do corpo e transformar esse substantivo num grande vazio passado que não poderá ser recriado nem em poesia.

porque essa violência que vemos... porque essa violência que sentimos e deixamos e sabemos esquecer
ela tá aí. como quem mata sem deixar pistas, sem deixar vácuo, apenas sofrimento morno, e dor de perda justificada.
não é possível! que nada disso se justifica, realidade de merda escrota filha da puta.
isso é um não agüentar que voa de todos os poros até as lágrimas que caem e as palavras que conseguem escapar de uma boca rouca e velha quanto esses olhos que não duvidam mas não aceitam o que vêem.

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