é engraçado eu estar aqui, agora. não queria nada disso, sentir esse amontoado de linhas paralelas, loucas e incosntantes. queria ser a gatinha da lygia, que brinca com papéis, que pula da cama, cai no chão, se estatela e esquece tudo, tudo, no dia seguinte. mas reconhece pelo cheiro, pelo amor perdido, pelo suor do tempo e pelo pulso que seu coração se torna ao abrir a porta de casa à tardinha.
será que um dia eu amei? é que o amor me está tão longe que às vezes tenho medo de ter inventado tudo. mas eu era outra (eu sei), e talvez por isso não consiga mais escutar a beleza ranger nos meus ouvidos. é doce e viva essa sensação, mas triste, tão triste que chega a dar uma monotonia e quase um tempo morno de felicidade.
fui pegar uma bala pra ver se eu mastigo um pouquinho do que é o amor. aqui em casa há uma sala cheia de doces, sorvetes e pipas. parece que é a minha infância engaiolada e dormente, pronta para me atormentar e gritar o que eu sou.
os livros estão dormindo na cama, um diário azul e pronto para ser jogado no lixo, um copo de guaravita, o papel de bala amssado na minha frente. acho que vou guardar esse papel como forma de aprender a embrulhar a idéia de amor. não há nada ali, nada, só o cheiro da bala. e não é assim que tudo fica?
eu queria pedir alguma coisa, sabe? acordar, calçar os chinelos, correr para o mundo e gritar "alguém me dá o que eu preciso!". mas nem eu sei ainda, talvez seja um olhar profundo, um esgar de lábios devagar e com muita semântica. não, semântica não, não precisa ter isso, nunca, mas sentir, e sentir muito.
pensei em jogar tudo fora, pela janela, pelas frestas da porta, abrir a cortina e dar um grito que pintasse o céu, que desenhasse o que eu quisesse, como um poema que antes de nascer já é poesia.
você consegue ver? eu não, o grito quase me cegou, pintou não o céu mas meu corpo, os olhos se tornaram bolhas de sabão que estouram depois de serem violentadas por dedos e vento e amor.
acho que o amor me atormenta. de uma forma que nem eu percebo. passeia pelo meu corpo, finge que vem, mas engana. ameaça e vai vai para sei lá onde, algum lugar onde possa brincar de esconde-esconde.
não vou procurar, porque estou cansada, suor de correr de outras coisas, da vida, pelas ruas, amontoados de dias e passos e sons. deixo ele se perder, calado, chorando, sempre à espera, com uma máscara empoeirada que eu costumava usar nos carnavais.
(vou te contar uma coisa: caí numa confusão de pêlos, olhares, lágrimas, corpo palpitante de momento, mentiras, promessas nunca ditas, cama e eternidade de ânsia, uma ânsia muito forte. nenhum medo, mas uma profunda irritação pela indiferença)
vou dançar. o corpo em tormentos no meio da sala, sonidos tocando os músculos e os poros.
fico tonta, mas posso sorrir em paz.
5 comentários:
Palavras bonitas, situação delicada... Certas coisas só nós sabemos o que é...
Eu queria ser um gato com um dono(a). Se estou de saco cheio, durmo.
Bonito Pri!
continue achando..
continue contando..
continue querendo..
continue versando!
O verso é teu pastor e nada te faltará no verso.
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