quarta-feira, novembro 10, 2010

é engraçado eu estar aqui, agora. não queria nada disso, sentir esse amontoado de linhas paralelas, loucas e incosntantes. queria ser a gatinha da lygia, que brinca com papéis, que pula da cama, cai no chão, se estatela e esquece tudo, tudo, no dia seguinte. mas reconhece pelo cheiro, pelo amor perdido, pelo suor do tempo e pelo pulso que seu coração se torna ao abrir a porta de casa à tardinha.
será que um dia eu amei? é que o amor me está tão longe que às vezes tenho medo de ter inventado tudo. mas eu era outra (eu sei), e talvez por isso não consiga mais escutar a beleza ranger nos meus ouvidos. é doce e viva essa sensação, mas triste, tão triste que chega a dar uma monotonia e quase um tempo morno de felicidade.
fui pegar uma bala pra ver se eu mastigo um pouquinho do que é o amor. aqui em casa há uma sala cheia de doces, sorvetes e pipas. parece que é a minha infância engaiolada e dormente, pronta para me atormentar e gritar o que eu sou.
os livros estão dormindo na cama, um diário azul e pronto para ser jogado no lixo, um copo de guaravita, o papel de bala amssado na minha frente. acho que vou guardar esse papel como forma de aprender a embrulhar a idéia de amor. não há nada ali, nada, só o cheiro da bala. e não é assim que tudo fica?

eu queria pedir alguma coisa, sabe? acordar, calçar os chinelos, correr para o mundo e gritar "alguém me dá o que eu preciso!". mas nem eu sei ainda, talvez seja um olhar profundo, um esgar de lábios devagar e com muita semântica. não, semântica não, não precisa ter isso, nunca, mas sentir, e sentir muito.
pensei em jogar tudo fora, pela janela, pelas frestas da porta, abrir a cortina e dar um grito que pintasse o céu, que desenhasse o que eu quisesse, como um poema que antes de nascer já é poesia.
você consegue ver? eu não, o grito quase me cegou, pintou não o céu mas meu corpo, os olhos se tornaram bolhas de sabão que estouram depois de serem violentadas por dedos e vento e amor.

acho que o amor me atormenta. de uma forma que nem eu percebo. passeia pelo meu corpo, finge que vem, mas engana. ameaça e vai vai para sei lá onde, algum lugar onde possa brincar de esconde-esconde.
não vou procurar, porque estou cansada, suor de correr de outras coisas, da vida, pelas ruas, amontoados de dias e passos e sons. deixo ele se perder, calado, chorando, sempre à espera, com uma máscara empoeirada que eu costumava usar nos carnavais.

(vou te contar uma coisa: caí numa confusão de pêlos, olhares, lágrimas, corpo palpitante de momento, mentiras, promessas nunca ditas, cama e eternidade de ânsia, uma ânsia muito forte. nenhum medo, mas uma profunda irritação pela indiferença)

vou dançar. o corpo em tormentos no meio da sala, sonidos tocando os músculos e os poros.
fico tonta, mas posso sorrir em paz.

5 comentários:

Anônimo disse...

Palavras bonitas, situação delicada... Certas coisas só nós sabemos o que é...

Unknown disse...

Eu queria ser um gato com um dono(a). Se estou de saco cheio, durmo.

sensação de violeta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
sensação de violeta disse...

Bonito Pri!
continue achando..
continue contando..
continue querendo..
continue versando!

André Luís Borges de Oliveira disse...

O verso é teu pastor e nada te faltará no verso.