terça-feira, fevereiro 05, 2013

meu amor,
não tão mais meu agora,
lembrei de um dia em que você me levou para passear no arpoador, mas eu não queria ver as ondas baterem na minha tristeza, muito menos a areia me invadir como que no primeiro sexo. queria beber uma cerveja, estar longe dali, no bar do zé em botafogo ou num boca de esquina na lapa.
fiquei ali, sendo encarada por você e pela noite, aceitando tudo de boa vontade, porque o amor não era uma felicidade morna nem uma dor arrebatadora. era o início de um pequeno desespero bagunçado, uma vontade andando de bicicleta bem na minha frente e eu correndo para alcançá-la.
quando voltamos para casa, você disse que queria ver um filme do woody allen. eu ainda pensava na cerveja e, se fosse para ver um filme, preferia que fosse tarantino. mas me deixei levar de novo e fiquei muito emocionada com a minha coca-cola e o seu gato passando o pelo pelos meus pés. te olhava de canto, te achava um pouco parecido com o personagem principal, e me perguntava se você preferia a penélope cruz ou a scarlett johansson. depois você passava a mão pelos meus cabelos, me puxava e me dava um beijo que me fazia esquecer qualquer coisa, até da saudade que aquele filme me causava, das ondas me julgando no arpoador ou das marcas dos nossos pés que já sumiram da praia.
quando você foi embora, lembra?, eu sentei na varandinha, acendi um cigarro e chorei com orgulho. à noite, ainda consigo respirar um pouquinho das músicas que escutávamos. parece que estou viajando para barcelona ou roma, ou qualquer outro lugar assim. queria que você as tivesse escrito, porque aí me sentiria também respirada por você.

Um comentário:

carinne Lira disse...

Lindíssimo Priscila! Como você consegue expressar tão bem os sentimentos, transformar o cotidiano, momentos simples, em um grande texto. parabéns.