fui embora de mansinho, para que as lembranças não ficassem penduradas nos cabides nem nas maçanetas. não escancarei a janela da sala, não pulei o muro que me prendia nem me fiz pássaro.
simplesmente acordei, tomei meu café, fumei um cigarro pra escrever (mas não escrevi) e abri a porta de leve, bem devagar, pra não fazer o barulho de quem futuca o passado.
não arranhei o corpo quando coloquei o pé na rua, mas deixei as digitais para trás, um pouco da pele arrepiada e até mesmo um pedaço de chocolate na geladeira.
se me perguntarem, não sei. não sei como aqueles poemas que vêm na cabeça e simplesmente nascem sozinhos, sem precisar de alguém que os dê à luz. só vou andando, pulando pedrinhas, mergulhando nas esquinas solitárias e nos becos sem saída.
na partitura que desenhei, ainda não toquei as notas, mas suspirei tantos silêncios que a melodia me agradece com mãos dadas e uma corda bamba pra eu seguir em frente.
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