sábado, julho 14, 2018

olha, olha fundo, até alcançar o epicentro dessas rugas que se formam embaixo dos meus olhos, tenho vinte e seis anos e algumas rugas que tenho certeza que se formaram de tanto que choro ou de tanto que fumo, ou uma mistura das duas coisas, acho que elas não deveriam estar ali tão cedo, daí que quando sorrio aparece a velhice do pensamento, tem dias que me sinto assim, profundamente velha, e isso não tem a ver com as rugas, mas com um peso estranho que sempre esteve comigo desde quando era criança e sentava escondida dentro de um armário para ler livros, ou quando chorava no canto do quarto, do lado da escrivaninha, toda vez que o dia anoitecia, eu carregava o peso do tempo, imaginei tantos funerais, a solidão tem um cheiro que já reconheço, quando ela se aproxima entendo seu perfume e sei que estou viciada em sentir-me só, estar muito tempo ao lado de outras pessoas me causa abstinência, preciso enfiar a cabeça em bueiros, dar de cara com ratos que me enxergam como realmente sou, eles sabem mais que eu sobre a vida, sabem mais que eu sobre minhas rugas, e enxergam, enxergam realmente o significado de um rastro nessa coisa esquisita que nomeamos de corpo.

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