sábado, setembro 23, 2006

Para meu amado Eu.

Querido eu,

Tenho pensado muito constantemente em abandoná-lo. Não, não! A culpa não é sua, não pense isso, por favor. Ela é inteiramente minha. Eu não consigo mais conviver com meus vícios, com minhas criações, nem com meus pensamentos fracos.
Às vezes, penso em construir um enorme barco, onde só nós dois sejamos a embarcação, e sair navegando pelos mares nunca dantes navegados. Mas sei que, na primeira onda turbulenta, correrei para me esconder, deixando o barco sozinho, até ser destruído pelo mar.
Sou fraca, oh, eu sei. Por isso quero soltá-lo de minha alma. Para que você possa correr pelos campos cheios de magia e rolar com as flores, pelo gramado verde. Não pense que quero me ver livre de você. Ninguém gosta de perder uma parte de si, mesmo que seja para libertá-la de uma imensa prisão sem luz.
Tudo que eu queria era não pensar. Mas é impossível! Parece que algo toma conta de meus pensamentos, fazendo-me ver apenas o que há de ruim entre nós dois! Ah, perdi tudo que havia de bom em mim há muito tempo, somente você me restou. Uma mínima esperança no meio das desilusões.
É exatamente isso. Não quero que você continue fazendo parte de minha percepção. Sua cor já começa a se desfocar e, daqui a algum tempo, você acabaria por se perder inteiramente dentro de mim, como tudo que foi misturado a esta tão pura homogenia.
Precisa entender que me contento com migalhas, e prefero guardá-las para alimentar-me mais tarde, do que comê-las todas agora e morrer de fome depois. É um sacrifício que faço por nós dois, até que tudo finde e eu, finalmente, desapareça por completo do mundo formado por cada mínimo sentimento.
Eu o amo, por isso quero vê-lo livre de mim. Meu colorido em preto-e-branco, minha rosa em espinhos. Fuja do meu toque, do nosso encostar de dedos invisível. Quero que se vá como essa rápida chuva de verão. Quero que se vá e que leve tudo tudo consigo.

Tudo está aqui, nesta carta.
Leia e entenda.
Não olhe para trás, nunca cogite fazê-lo.
Quando se for, não me dê beijos de despedida.
Que tudo se faça naturalmente.

E, para nós, tudo acaba aqui.

Espero que, quando eu acordar desse êxtase, você já tenha virado a esquina para sempre.

Um adeus, meu querido Eu.
Apenas um.

5 comentários:

Walrus disse...

é pra mim isso ae? :x

Giselle disse...

Já tentei pedir ao meu "eu" que me abandonasse, mas sempre que ele ia, clamava por sua volta. Hoje aprendi que sem ele, eu não "sou". Posso ser péssima, mas sem ele, não tenho ninguém. E eu prefiro a fieldade de um eu abominável, que me destrua por completo, do que um eu distante do que eu sou... Prefiro que ele morra comigo do que parta feliz. Ele só "estaria" sem mim, nunca "existiria". Seria uma sombra, um peso supérfluo na terra. Não. Que ele receba as honras merecidas por seus atos ;P

Anônimo disse...

se afastar do eu ou dos seus sonhos? É isso que me parece ai nesse texto. As pessoas deviam aprender a amar mais seus sonhos e a si mesmas, mas não esse amor egoista dai. Mas sim um amor do equilibrio que existe por natureza...

Anônimo disse...

Que lindo

;*

Anônimo disse...

Em linha com o meu post "cansada..."
Amei esse texto.
Deixa eu te perguntar: você sabe mexer em ftp? Quer transferir seu blog pra minha hospedagem?
Bjitos!